
A Escola com que Sempre Sonhei sem Imaginar que Pudesse Existir
Alves, Rubem, 1933. A Escola com que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir – Campinas, SP: Papirus, 2001.
Rubem Alves nasceu no dia 15 de setembro de 1933, em Boa Esperança, sul de Minas Gerais, naquele tempo chamada de Dores da Boa Esperança. A cidade é conhecida pela serra imortalizada por Lamartine Babo e Francisco Alves na música "Serra da Boa Esperança".
A família mudou-se para o Rio de Janeiro, em 1945, onde, apesar de matriculado em bom colégio, sofria com a chacota de seus colegas que não perdoavam seu sotaque mineiro. Buscou refúgio na religião, pois vivia solitário, sem amigos. Teve aulas de piano, mas não teve o mesmo desempenho de seu conterrâneo, Nelson Freire. Foi bem sucedido no estudo de teologia e iniciou sua carreira dentro de sua igreja como pastor em cidade do interior de Minas.
No período de 1953 a 1957 estudou Teologia no Seminário Presbiteriano de Campinas (SP), tendo se transferido para Lavras (MG), em 1958, onde exerce as funções de pastor naquela comunidade até 1963.
Casou-se em 1959 e teve três filhos: Sérgio (1959), Marcos (1962) e Raquel (1975). Foi ela sua musa inspiradora na feitura de contos infantis.
Em 1963 foi estudar em Nova York, retornando ao Brasil no mês de maio de 1964 com o título de Mestre em Teologia pelo Union Theological Seminary. Denunciado pelas autoridades da Igreja Presbiteriana como subversivo, em 1968, foi perseguido pelo regime militar. Abandonou a igreja presbiteriana e retornou com a família para os Estados Unidos, fugindo das ameaças que recebia. Lá, torna-se Doutor em Filosofia (Ph.D.) pelo Princeton Theological Seminary.Sua tese de doutoramento em teologia, "A Theology of Human Hope", publicada em 1969 pela editora católica Corpus Books é, no seu entendimento, "um dos primeiros brotos daquilo que posteriormente recebeu o nome de Teoria da Libertação".
De volta ao Brasil, por indicação do professor Paul Singer, conhecido economista, é contratado para dar aulas de Filosofia na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro (SP).
No prefácio o autor Ademar Ferreira dos Santos faz alusão à educação como um caminho a ser percorrido, mas esse caminho não deve ser imposto por outros... Deve ser descoberto essencialmente, pelo caminhante... Coloca a poesia de Antonio Machado como referência, explicando sob diversos olhares:
· Como acontece a descoberta do conhecimento,
· Os meios que transformaram a Escola da Ponte numa referencia de ambiente favorável à prática de uma educação transformadora,
· A reformulação dos papéis de professor e de aluno em todos os aspectos.
· O educar na cidadania que é diferente do educar para a cidadania.
Discorrendo sobre as diferenças encontradas entre a Escola da Ponte e as outras; o autor explica que a organização e o funcionamento da mesma, obedecem a uma lógica diferente:
· Parece não haver professores, e que eles não são necessários...
· São os alunos que recebem e acompanham os visitantes...
Foi isso que aconteceu com Rubem Alves, levado a visitar a Escola da Ponte, ficou encantado e fascinado com tudo que viu e ouviu lá...
Quando regressou ao Brasil, escreveu e publicou no jornal: o Correio Popular, de Campinas, um conjunto de crônicas dedicadas à Escola da Ponte.
O autor Fernando Alves tece comentário a respeito de Rubem Alves e da sua visita a Escola da Ponte, onde conversou com as crianças e contou sobre o que estava escrevendo.
KOAN – Neste capitulo Rubem Alves explica que, é preciso:
· Desensinar,
· Aprender a ver,
· Ser diferente para ver diferente,
E que este "ser diferente" é feito de palavras e somos prisioneiros da linguagem, só vemos aquilo que a linguagem permite e ordena que vejamos. E foi isso que ele viu na Escola da Ponte, mostrando que é possível acontecer o Koan e o que ele chamou de iluminação, as experiências vividas na Escola da Ponte podem ser repetidas e que os professores não precisam necessariamente estarem cheios de saberes para se sentirem capacitados e sim desaprender certas coisas para verem o que nunca viram e descobrir que isso importa.
Quero uma escola retrógrada – Rubem Alves faz alusão ao sociólogo Karl Marx, comparando as escolas com as linhas de produção, onde os alunos são ensinados em etapas (séries) e são avaliados para receberem seus certificados.
Na verdade, o que deveria acontecer, era justamente o contrário, as escolas deveriam ser como oficinas artesanais, onde:
· Artesãos fabricariam peças únicas,
· O trabalho fosse feito com alegria e concentração, inteligência e emoção, essas peculiaridades podem ser encontradas num lugar especial chamado Escola da Ponte.
A Escola da Ponte 1 – Rubem Alves conta como conheceu o Centro de Formação Camilo Castelo Branco e o professor Ademar Santos, seu diretor e que compartilhava das mesmas idéias.
Trocaram correspondências e surgiu a oportunidade de fazer uma visita a Portugal. Lá ele foi apresentado à Escola da Ponte, sua estrutura e organização, como eram suas instalações e como era seu funcionamento.
A Escola da Ponte 2 – Rubem Alves continua a explorar a escola e a receber as explicações sobre seu funcionamento e constata com grande alegria que:
· A melhor forma de ensinar e aprender se dá daquela maneira onde, o que é aprendido e o que é ensinado, representa para as crianças, algo que é vivenciado por elas no seu cotidiano,
· Nada de programas que ditam o que deve ser aprendido pelas crianças e ensinado pelos professores,
· O melhor jeito de aprender é através da informalidade, sem regras, seguindo o que está acontecendo no presente.
A Escola da Ponte 3 – Neste capitulo, Rubem Alves faz e responde perguntas oriundas de:
· Como são e como tem sido às escolas?
· O cumprimento de programas feitos por pessoas que jamais foi à escola,
· A necessidade de estabelecer o que se tem que aprender, esclarecendo que deveríamos aprender só as coisas com algum significado para nós,
· Os saberes deveriam nos ajudar a resolver problemas, com os quais estamos nos confrontando.
· Uma escola que seja iluminada pelo brilho dos inícios.
A Escola da Ponte 4 - Neste capitulo, Rubem Alves demonstra claramente que os programas escolares são cumpridos, mas nem sempre são aprendidos, isto porque os estudantes são capazes de decorar para passar no teste, mas logo esquecem, pois o que foi ensinado, não pode ser colocado em prática e que o ato de aprender acontece em resposta a um desejo. Os programas eleitos pelas escolas privilegiam os saberes, exigidos por entidades que esqueceram que só se aprende aquilo que desejamos conhecer.
A Escola da Ponte 5 – Neste capitulo, Rubem Alves discorre sobre os professores, e as crianças, são eles as molas propulsoras da escola. Os professores são classificados mediante o grau no qual são especializados, e os professores primários são de terceira classe, Mas se esquecem que as crianças possuem aquela qualidade que os adolescentes já perderam: o encantamento com o novo, da descoberta e se esquecem que a melhor aula é aquela que não foi preparada, é ensinada inconscientemente, de forma lúdica, e a Escola da Ponte oferece um único espaço partilhado por todos, onde todos se ajudam ao ritmo da vida, não seguem programas.
O essencial não cabe em palavras – Neste capitulo, uma mãe e professora da Escola da Ponte, fala sobre o dia em que Rubem Alves passou lá, explicando o seu sentimento em relação à escola e falando sobre suas características... Seu depoimento é explicado quando ela afirma, através da pergunta feita pelo autor, que ela responde, dizendo que: "ele passou tão pouco tempo lá, mas mesmo assim conseguiu captar a essência da escola".
A Escola da Ponte: Bem-me-quer e malmequer – Neste capitulo, Pedro Barbas Albuquerque, qualifica e relaciona as práticas cotidianas da Escola da Ponte, mostrando que a Escola da Ponte só existe porque os seus integrantes participam e aperfeiçoam essa realidade de fazer parte da escola.
A Escola dos Sonhos existe, já faz 25 anos, em Portugal – Neste capitulo o Educador José Pacheco responde perguntas a respeito da Escola da Ponte:
· De como ela surgiu?
· Seu nascimento como, uma efetiva diversificação das aprendizagens,
· Tendo por referência uma política de Direitos Humanos, que garantissem as mesmas oportunidades educacionais e de realização pessoal,
· Para promover a autonomia e a solidariedade, operando transformações na estrutura de comunicação e intensificando a colaboração entre as instituições e os agentes educativos locais.
· Trabalho cooperativo e mudança de atitude profissional na escola do 1º ciclo, do ensino básico.
· Sendo o trabalho coletivo efetuado em escolas do ciclo básico, poderia transformar transversalmente, todo o sistema de ensino,
· Abrangeria a organização educativa no seu âmago, pois é no ciclo básico onde prevalece o modelo que precisa ser mudado, em sua base.
· Caracterizados como lugares de se aprender e de se ensinar, o ciclo básico, contribui com a política de formação de outros seres iguais e efetivamente fragilizados pelo sistema.
· A prática de ensino sendo feita numa escola onde, o Projeto Pedagógico é inovador e amplamente discutido e partilhado com a comunidade, fortalece as relações e prova que essa mudança pode proporcionar um Projeto Educativo de Qualidade.
Foi com prazer que li o meu querido Rubem Alves, já tive contato com outros livros feitos por ele e conhecia algumas dessas crônicas...
A resposta à pergunta feita: se eu matricularia meus filhos numa escola como essa? Já tinha sido respondida por mim, anteriormente e positivamente.
Agradeço o prazer que me foi proporcionado e concordando com o autor em gênero, número e grau e acreditando que talvez um dia essa escola exista, ali, na esquina da minha casa.
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