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2/18/2010

O PESSIMISMO É UM CÂNCER DA ALMA


Você pode não ter dinheiro, mas, se for rico em bom senso, será um pai ou uma mãe brilhante. Se você contagiar seus filhos com seus sonhos e entusiasmo, a vida será enaltecida. Se for um especialista em reclamar, se mostrar medo da vida, temor pelo amanhã, preocupações excessivas com doenças, estará paralisando a inteligência e a emoção deles.
Sabe quanto tempo demora um conflito psíquico, sem tratamento e sem futuro genético, para ter remissão espontânea? Às vezes três gerações. Por exemplo, se um pai tem obsessão por doenças, um dos filhos poderá registrar esta obsessão continuamente e reproduzi-la. O neto poderá tê-la com menos intensidade. Somente o bisneto poderá ficar livre dela. Quem estuda os papéis da memória sabe da gravidade do processo de transmissão das mazelas psíquicas.
Demonstre força e segurança aos seus filhos. Diga freqüentemente a eles: " A verdadeira liberdade está dentro de você", "Não seja frágil diante das suas preocupações!", "Enfrente as suas manias e ansiedade", Opte por se livre! Cada pensamento negativo deve ser combatido, para não ser registrado”.
O verdadeiro otimismo é construído pelo enfrentamento dos problemas e não pela sua negação. Por isso, as palestras de motivação raramente funcionam. Elas não dão ferramentas para gerar um otimismo sólido, que nutre o "eu" como líder do teatro da inteligência.
De acordo com pesquisas em universidades americanas, uma pessoa otimista tem 30% de chances a menos de ter doenças cardíacas. Os otimistas têm menos chances ainda de ter doenças emocionais e psicossomáticas.
O pessimismo é um câncer da alma. Muitos pais são vendedores de pessimismo. Já não basta o lixo social que a mídia deposita no palco da mente dos jovens, muitos pais transmitem para eles um futuro sombrio. Tudo lhes é difícil e perigoso. Estão preparando os filhos para temer a vida, fechar-se num casulo, viver sem poesia. Nutra seus filhos com um otimismo sólido!
Não devemos formar super-homens, como preconizava Nietzsche. Pais brilhantes não formam heróis, mas seres humanos que conhecem seus limites e sua força.
Augusto Cury

A CRUEL INTERPRETAÇÃO DO COMPORTAMENTO

Interpretar é, certamente, das artes e mais difícil. Das iniciativas, a mais arrojada. Dos desejos, o mais explosivo. Das buscas, a mais escorregadia. Entretanto, muito pouco do que se faz na vida se faz sem a ajuda (ou desajuda) da interpretação.
Nenhum educador tem que ser implacável quando se propõe a ensinar ao que não sabe ou corrigir ao que aprendeu de forma distorcida. Desaprender é mais difícil do que aprender um novo comportamento. É mais doloroso desarraigar o que se incorporou de maneira inadequada do que construir o caminho novo do aprender, e a aprendizagem é um novo aprender em que educador e educando se unem para efetuar uma transformação mútua em busca de algo maior.
Uns são frágeis, porque estão no começo; outros são insensíveis, por que começaram mal. Uns e outros muito pouco conquistarão se não forem alcançados pela ternura pedagógica que implica um ato de amor. (texto extraído do livro A coragem de conviver de Luiz Schettini Filho).

2/12/2010

Sabedori(Sophia)

E pois evidente que a sabedoria(sophia)é uma ciência sobre certos princípios e causas. E, já que procuramos essa ciência, o que deveríamos indagar é de que causas e princípios é ciência e sabedoria. Se levarmos em conta as opniões que temos a respeito do sábio, talvez isso se torne mais claro. pensamos, em primeiro lugar, que o sábio sabe tudo, na medida do possível, sem que ter ciência de cada coisa particular. Em seguida, consideramos sábio aquele que pode conhecer as coisas difíceis, e não de fácil acesso para a inteligência humana(pois o sentir é comum a todos por isso fácil, e nada tem de sábio). Ademais, àqueles que conhece com mais exatidão e é mais capaz de ensinar as causas, consideramos-lo mais sábio em qualquer ciência. E, entre as ciências, pensamos que é mais sabedoria a que é desejável por si mesma e por amor ao saber, do aquela que se procura por causa dos resultados, e [pensamos] que aquela destina a mandar é mais sabedoria que a subordinada. Pois não deve o sábio receber ordens, porém dá-las, e não é ele que há de obdecer a outro, porém deve obedecer a ele o mesmo sábio. Tais são, por sua qualidade e sua número, as idéias que temos acerca da sabedoria e dos sábios.

ARISTÓTELES, Metafísica.
Prof. Robério

12/22/2008

Novo Tempo, Nada de Novo

Novo Tempo, Nada de Novo
Novo Ano! Novo Século! Novo Milênio! O que podemos esperar desse novo tempo que se inicia? Saúde, educação, emprego, moradia? Bem, essas palavras simplesmente traduzem as necessidades básicas de qualquer cidadão no mundo. Não seria diferente para o povo brasileiro. O básico deixa de ser básico para ser artigo de luxo de alguns poucos brasileiros.
Pensam, alguns, que o povo brasileiro gosta de ser enganado, ludibriado. Podemos citar, como exemplo, a fantasiosa comemoração dos 500 anos de descobrimento do Brasil, onde foi dada a largada para mais uma maratona de corrupção. Os mais "bem-intencionados" utilizaram o tema para dar asas a imaginação. Realmente, foi uma estratégia de marketing. O assunto serviu de tema, por exemplo, para escolas de samba de várias regiões do país. Panfletos, outdoors e souvenires diversos foram utilizados para que se fizesse notar os 500 anos. Será que o medo de que ninguém lembrasse da data era tão grande assim? Ou será que toda essa folclórica e exuberante manifestação ufanista que o governo impingiu ao povo brasileiro não teria a finalidade de desviar o foco da discussão sobre a nossa desigualdade social, mazelas e atitudes de governantes que mancham nossa bandeira com a tinta da corrupção?
A realidade é bem diferente. Lamentavelmente, o dia-a-dia do povo brasileiro não é feito de fantasias coloridas e plumas de pavão. Temos a falta de saneamento básico e a degradação ecológica. Peixes morrendo, dengue, cólera, esquistossomose, tuberculose e epidemias diversas. E onde está o dinheiro do CPMF? É cediço que este dinheiro seria destinado à saúde. E por que tanta gente morrendo por falta de atendimento médico e hospitalar?
Junto ao descaso com a saúde da população, um reflexo da insensatez dos governantes é a resistência em aumentar o salário mínimo. Nos últimos 30 anos, as pesquisas sobre os índices de criminalidade no País apontam o crescimento desordenado das regiões periféricas, a proliferação das favelas, a ausência da polícia, o desemprego, o caos da Saúde que se vê nos hospitais sucateados, escolas deterioradas, falta de lazer e educação, como detonadores da violência urbana.
A ineficiência, tanto do sistema penitenciário, quanto policial, é apenas reflexo de uma causa maior, o desequilíbrio social provocado pela má distribuição de renda. Há ainda a banalização da violência, o desrespeito, a falta de ética e seriedade com que os temas sociais são tratados por determinados veículos de comunicação, fazendo com que a violência pareça um sintoma normal.
Neste Brasil de "meu Deus", não fosse a resistência da nossa gente, nossas belezas naturais e a fertilidade do nosso solo, não teríamos quase nada a comemorar, quanto mais os 500 anos de Brasil. 500 anos de quê?
Em novos tempos, novos dias, podemos lembrar o trecho de uma canção que, a algum tempo atrás, dizia mais ou menos assim: "No novo tempo, apesar dos castigos. Estamos crescidos, estamos atentos, estamos mais vivos... No novo tempo, apesar dos perigos. Da força mais bruta, da noite que assusta, estamos na luta. Pra sobreviver, pra sobreviver, pra sobreviver". 1 Portanto, meus caros leitores, estamos vivendo e sobrevivendo os novos velhos tempos, pois, apesar de decorrido algum tempo desse tempo, os tempos não mudaram em nada, absolutamente nada.
Continuemos, pois, a clamar por nossos direitos! Não seremos coniventes com a falsidade ideológica dos supostos ideais que nossos governantes dizem ser para o bem do povo brasileiro. Continuemos, pois, a reivindicar o que, por direito, é nosso! O povo não precisa de promessas! O povo precisa de respeito, amparo e orientação, para que tome consciência de todos os seus direitos e deveres, como cidadãos brasileiros que são.

"Bebida é água.
Comida é pasto.
Você tem sede de quê?
Você tem fome de quê?
A gente não quer só comida.
A gente quer comida, diversão e arte
A gente não quer só comida.
A gente quer saída para qualquer parte.
A gente não quer só comida
A gente quer bebida, diversão, balé.
A gente não quer só comida
A gente quer a vida como a vida quer". 2

1 Trecho da música Novo Tempo, de autoria de Ivan Lins e Victor Martins.
2 Trecho da música Comida, dos Titãs.
© Texto produzido por Rosana Madjarof
Postado por professor Robério em 22/12/2008

11/26/2008

A Educação no Novo Milênio

A Educação no Novo Milênio



Poucos temas serão tão importantes para a humanidade como o da Educação, já que dos meios que a ela se dedicam e do sentido que se lhe dê, depende, em grande parte, o futuro do homem e do mundo. Da educação dependem, em grande parte, a possibilidade de uma sociedade mais avançada, justa, democrática e humana, um mundo mais útil e racional, relações de produção baseadas no desenvolvimento do homem e na conservação do meio ambiente. Dela dependem, por fim, o desenvolvimento da riqueza, tanto espiritual como econômica . Ela constitu , se bem compreendida, a pedra angular do novo milênio.

A ação educativa desta nova era pressupõe uma nova concepção do homem e visa, em última instância, o desenvolvimento total da pessoa e a obtenção autêntica da liberdade. Porque pensamos tanto na utópica liberdade? - Ela é a motriz da alma humana! - Foi com esta motivação que o homem desenvolveu seus processos educativos ... Numa época em que a Ciência e a Tecnologia avançam aceleradamente, é necessário que o homem aprenda a rever os seus conhecimentos; Sua ferramenta mais poderosa é o processo educativo. A educação é a disposição para aprender a ser. É a mais importante fórmula que a humanidade dispõe para aperfeiçoar-se, compreender-se e autodisciplinar-se.


Emanuel kant disse-nos: " Os homens projetos de educação deveriam ter sempre presente no seu ânimo o seguinte princípio da pedagogia: Não se deve educar crianças em função do atual estado da espécie humana, mas tendo presente o seu futuro; isto é, adaptando-se à idéia de humanidade e do sentido último desta. " Este princípio transformou a educação de tal forma, que em nossos dias já colhemos seus frutos. Esta nova realidade educacional tem como base o conhecimento da psicologia humana, o estudo objetivo de cada individualidade, assim como pressupõe o respeito a personalidade do ser , dando-lhe meios para desenvolver suas aptidões e, por fim, busca semear no indivíduo o respeito a natureza, ao meio e a vida; preservando e cultivando o sentimento de unidade com o Logos.


Dentro desta ótica é que se desenvolve a AÇÃO e a REFLEXÃO. Entendamos o relato de Carlos (estudante de 12 anos) durante uma aula de Educação Ambiental ministrada pelo Instituto Terra Brasil:



"Nosso planeta está doente..
Agente só destrói ! "


Eis a REFLEXÃO !


" Vamos catar nosso lixo. Vamos limpar a trilha, tirar essas latas
do caminho e limpar o topo da Pedra Bonita."


E a AÇÃO !


Este é um dos frutos da nova educação: A Educação Ambiental. Ela possui características altamente positivas pois dentre outras coisas, promove o QUESTIONAMENTO.


Podemos entender que a "Educação Ambiental se propõe a trabalhar como um processo participativo, em que os sujeitos e a coletividade constróem valores, adquirem conhecimentos, atitudes e competências voltadas para a conquista e manutenção do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado." (publicação do IBAMA(***) 1998; Publicação para professores sob o título: Educação Ambiental no Parque Nacional da Tijuca).


Dentre os objetivos da Educação Ambiental estão: 1-Propiciar uma percepção integrada do meio ambiente, resultante da interação dos aspectos biológicos, sociais, econômicos e culturais ; 2 -Favorecer a aquisição de conhecimentos, valores, comportamentos e habilidades práticas, a partir da reorientação e articulação das diversas disciplinas e experiências educativas, para a participação responsável e eficaz na prevenção e solução dos problemas ambientais e da gestão da qualidade do meio ambiente; 3 - Facilitar a compreensão das interdependências econômicas, políticas e ecológicas do mundo atual, fortalecendo a idéia de cooperação solidária entre os países para o bem comum no planeta. (Texto da mesma trabalho supracitado).


O Instituto Terra Brasil abraça esta filosofia educacional e vem desenvolvendo trabalhos na área de Educação Ambiental desde 1989. Cremos pois, que a Educação Ambiental no seio de nossa sociedade neste novo milênio representará uma nova semente de esperança na sustentação da vida em nosso planeta, obrigando-nos a desejar coisas radicalmente novas, como o respeito a vida e essa tal Liberdade.


Mauro Marques Girão e Eduardo Lage Santos
Postado por professor Robério às 15:31:00

POR UMA EDUCAÇÃO PARA O PENSAR: A Célebre Democracia Desconhecida

POR UMA EDUCAÇÃO PARA O PENSAR: A Célebre Democracia Desconhecida

11/24/2008

A Célebre Democracia Desconhecida

Paulo Ghiraldelli Jr. O Filósofo da Cidade de São Paulo
A Célebre Democracia Desconhecida
Paulo Ghiraldelli Jr.
Quando as tropas dos Estados Unidos deixaram o Vietnã, o cartunista
brasileiro Henfil fez uma tira em quadrinhos interessante, que expressa
bem, até hoje, o espírito de uma boa parte dos intelectuais brasileiros –
ao menos o dos professores universitários das áreas de humanidades. No
primeiro quadrinho, o personagem principal ouvia a notícia da saída das
tropas. No segundo, ele aparecia com um rosto de preocupação.
Preocupação? Não deveria comemorar? No terceiro e último quadrinho o
personagem perguntava: “para onde irão agora as tropas?”.
Esta é a idéia de uma boa parte dos filósofos brasileiros a respeito dos
Estados Unidos. Esse tipo de visão, que só nas aparências é crítica, tem
sido uns dos fatores de desestímulo aos estudantes de filosofia, que os
afasta da leitura dos professores norte-americanos e, então, os leva para
longe do debate mais atual sobre a filosofia política.
Esses professores são os que favorecem a manutenção do Brasil em uma
situação de descompasso intelectual. Fazem seus alunos aceitarem
incondicionalmente os livros de Paris, Berlim e Roma sem perceberem
que os europeus, eles próprios, agem diferente. Contemporaneamente,
os europeus avançam culturalmente lendo o que se faz em Nova York.
É claro que nem todo pensador libertário brasileiro desconheceu que os
caminhos do futuro passavam pelos Estados Unidos. Brasileiros como
José Joaquim da Silva Xavier – o Tiradentes –, Monteiro Lobato e Anísio
Teixeira olharam a “América” de um modo inteligente – eles viram lá o que
Karl Marx também viu: as grandes possibilidades da boa idéia moderna: a
democracia. Ela, a democracia, tinha suas cartas na mesa no país da
bandeira listrada. Marx escreveu uma carta para Abraham Lincoln
felicitando-o pela vitória nas eleições presidenciais. Ele acreditava – e
estava certo – que o que haveria de importante para a democracia no
mundo tinha um caminho: aquele dado pelos Estados Unidos da América.
Os brasileiros mencionados acima também viram o que Max Weber
constatou e elogiou. Weber, na sua visita aos Estados Unidos, apreciou o
fato de o professor universitário americano poder vender conhecimentos
para todos que pagam – e mais de 50% dos estadunidenses pode pagar o
ensino superior –, o que dinamizava a vida cultural americana, ao
contrário da vida intelectual alemã, que ele via como burocratizada e
dominada por feudos e relações de poder.
A idéia de Marx, de que o pólo mais avançado de industrialização e
urbanização é que arrastaria, com seu modo de vida, o pólo menos
dinâmico, estava completamente correta. Nova York é a única cidade do
mundo onde realmente “tudo que é sólido desmancha no ar”, para
lembrar o slogan interno do Manifesto Comunista (1848) que buscava
caracterizar a modernidade. Marx via a América como o lugar onde “as
coisas iriam acontecer”. Essa foi uma sua visão que deu certo. A
democracia americana, como prática, está sendo observada pelo mundo todo. Para onde ela pender, o mundo penderá, ou a favor ou contra.
No Brasil, nossos heróis que também se inspiraram nos Estados Unidos,
foram os que se destacaram no panteão da Liberdade. Tiradentes é herói
da nossa pátria. Foi quem tentou organizar um levante pela
Independência brasileira de Portugal. Foi esquartejado pela Coroa
Portuguesa. Ele não desenvolveu seus ideais de liberdade rezando na
cartilha francesa, e sim na imagem da Revolução Americana. Monteiro
Lobato foi o nosso melhor escritor para crianças, e um clássico na
literatura adulta. Era simpático às idéias socialistas, embora ele próprio
fosse um homem que valorizava a “livre iniciativa”. Cultivou a América no
cérebro e no coração. Anísio Teixeira foi filósofo e pensador da
educação. Foi “o” nosso discípulo de John Dewey. Uma boa parte de
nosso sistema de ensino se estabeleceu moldado por idéias dele. Esses
foram os nossos pensadores que realmente “entenderam a América”.
Souberam ver os feitos da democracia. Infelizmente, nenhum deles
conseguiu influenciar muito diretamente o que se fez de filosofia no
Brasil.
Mesmo Anísio Teixeira, que foi o criador do nosso Instituto Nacional de
Estudos Pedagógicos (INEP) (um bom centro de documentação e
pesquisa em educação) e que esteve à frente de cargos importantes da
educação no país, não conseguiu quebrar o afrancesamento de nossos
departamentos de filosofia. Hoje, quando Paris, Berlim e Roma assistem
Nova York e esperam arrancar dali exemplos para testar soluções sociais
não só de ordem prática, mas de ordem da filosofia em geral e da filosofia
política em especial, na América Latina – especialmente no Brasil – ainda
estamos voltados para Paris, Berlim e Roma. Assim fazendo, nós mesmos
não conseguimos escapar do colonialismo. Pois nosso colonialismo
cultural não vem dos Estados Unidos, e sim da Europa. Não percebemos
aquilo que Antonio Gramsci percebeu: que somente a América, sem
superestruturas rígidas, poderia desenvolver um modo de vida inédito.
Nós, da América Latina, poderíamos agarrar a democracia estadunidense
para radicalizá-la? Para tal, teríamos, antes, de compreendê-la.
A democracia não é, nos Estados Unidos, um regime de governo, ela é
uma forma social de vida. Poucos estadunidenses, sejam eles
conservadores ou liberais, imaginam que se possa viver em um outro
lugar que não em uma democracia. Votar ou ser votado, representar ou
ser representado, tem lá sua importância, isso é sabido, mas o que é
realmente decisivo é viver sob a regra do aumento de oportunidades a
partir da conversação e da possibilidade de mostrar seu próprio know
how. Este é o ideal que não sai da cabeça dos que nasceram nos Estados
Unidos e dos milhares que não nasceram, mas que lutam para entrar no
país e usufruir da “América”. Essa noção de democracia, como os
americanos a criaram e internalizaram, é uma de suas mais originais
contribuições ao Ocidente.
Alguns críticos dos Estados Unidos pensam que os norte-americanos não
conseguem apreender o conceito de democracia. Atribuem a eles mais
etnocentrismo do que realmente possuem, como se todos norte-
americanos achassem que a democracia deles é a melhor e que, então,
estariam dizendo que valeria a pena, para o mundo, experimentá-la.
Alguns norte-americanos advogariam isso pela persuasão, outros, pela força – esta seria a única diferença entre os norte-americanos de
esquerda e de direita, garantem os críticos. Isso não é verdade. A
questão tem de ser posta de modo diferente.
Como modo de vida social, de fato os norte-americanos são os únicos que
possuem democracia. Em todos os outros lugares do mundo onde há
democracia ela é mais um regime de governo que uma forma social de
vida. Nos Estados Unidos, ela é a forma de vida da nação, de modo que se
a democracia desaparecer, desaparece tudo que conhecemos como
“América”. Os Estados Unidos nasceram de uma ruptura dura. Eles
romperam com a Mãe Inglaterra de uma forma violenta. Quiseram se
livrar do que era a vida européia. Então, tiveram de criar tudo que
criaram sozinhos, sem dogmas, fazendo o que tinham de fazer na
conversação entre pares – o que não excluiu o conflito, uma guerra civil e
uma série de disputas internas que beiraram o insuportável em
determinados períodos. Fazendo tudo que fizeram sozinhos, tiveram de
decidir em acordos parciais tudo que quiseram fazer em conjunto. Assim,
a teia democrática dos estadunidenses foi tecida junto com a teia social,
no cotidiano da construção da nação. Pode ser que vários norte-
americanos não percebam isso, ou seja, como eles fizeram a democracia
de um modo diferente. Talvez alguns estadunidenses acreditem que
democracia real, só eles mesmo possuem. E que só é democracia aquilo
que eles construíram – como vida social. Estão errados, de um ponto de
vista. Mas estão certos quando insistem que a experiência democrática
norte-americana é intrínseca à “América”. Alexis Tocqueville, mesmo
apontando os males da democracia, não disse que a democracia
americana seria uma forma de governo. Ele escreveu o livro Democracia
na América considerando, perfeitamente, os Estados Unidos como uma
nação inerentemente democrática. Democracia é sinônimo de América
em seu célebre livro. Nunca deixará de ser, pois são conceitos que
nasceram assim na modernidade. “democracia” e “América”, antes de
tudo, são conceitos.
A “América”, para os pioneiros que criaram os Estados Unidos, foi
estampada claramente nos poemas de Walt Whitman – o lugar de se
construir o diferentemente rico, o plural, a geração de tipos diferentes.
Ao agruparmos os poemas deste com o que escreveu John Dewey,
damos o passo correto para o conceito de “democracia” em sua ligação
com o conceito de “América”. Dewey diferenciava “América” e “Estados
Unidos”, e essa diferença é necessária para levar em conta o conceito de
“América”, o conceito de “democracia” dos norte-americanos e, então,
começar a entender os caminhos da filosofia política norte-americana.
Resumindo ao máximo: “América” é o sonho de liberdade dos pioneiros e
Pais Fundadores, mas que luta contra os “Estados Unidos”, que é o
“complexo industrial militar” dos grandes grupos econômicos e dos que
querem fazer da democracia uma plutocracia.
Essa divisão puramente conceitual - não geográfica - entre “América” e
“Estados Unidos” permitiu a John Dewey ver mais além que outros
escritores e filósofos de sua época. Sidney Hook, um filósofo norte-
americano que procurou unir Marx e Dewey, escreveu em 1939 em seu
livro John Dewey – an intellectual portrait que a análise de Dewey em
Liberalismo e ação social era para o século XX o que o Manifesto
Comunista foi para o século XIX. A idéia básica de Dewey era a de que o
capitalismo agregado ao liberalismo, com o passar do tempo, não havia dado condições de sobrevida para o liberalismo, e que isso teria se
agravado mais ainda em uma nação de bases agrárias que se
industrializou de modo monstruoso e rapidamente. Assim, o liberalismo
individualista dos primeiros tempos deveria dar espaço para um
liberalismo com planejamento, no século XX. No panorama europeu, isso
recebeu o nome de “social- democracia”. No panorama norte-americano,
isso se chamou de liberalismo social ou liberalismo radical ou novo
liberalismo. Na Europa, isso foi levado adiante após a II Guerra Mundial
por partidos de base intelectual marxista e operária, os social-
democratas que chegaram ao poder em vários lugares ou que, mesmo
não chegando ao poder, forçaram os que estavam no poder a realizar
parte de seus programas sociais. O economista ligado a tal política foi
John M. Keynes. Nos Estados Unidos essa política foi iniciada bem antes
da II Guerra Mundial, pelo “New Deal” de Roosevelt, que tirou o país da
Grande Depressão. Na Europa, tudo isso se fez em meio a trocas de
regimes políticos, sendo que alguns eram democráticos. Nos Estados
Unidos, em nenhum momento a democracia deixou de estar vigente.
Democracia não é regime de governo nos Estados Unidos, por isso, não
havia o que trocar. Os norte-americanos nunca usaram a palavra Govern
para Governo, como nós brasileiros; sempre usaram a palavra
Administration para Governo. A idéia de Administration é a idéia de ter
um mandato a ser cumprido, sempre sobre a base social que forma o
modo de vida, a democracia.
Bem, dito isso, podemos perguntar onde é que estariam as falhas da
democracia americana. Os problemas gerais se encontram exatamente
no que foi levantado por Marx: pode a democracia conviver com o
capitalismo ou ele é o coveiro desse modo de vida? A resposta de Marx
para tal questão foi simples: a democracia que vivemos é a “democracia
burguesa”, e deve ser ampliada de modo a se auto-superar
dialeticamente, pois caso contrário ela mesma irá desaparecer levando
consigo toda a civilização. Pois o capitalismo não é mais amigo da
democracia, é seu inimigo mortal, mas ele próprio pode gerar a
destruição de tudo, nos levar à barbárie. A “democracia burguesa” deve
vir abaixo em favor da “ditadura do proletariado”, uma vez que a
“democracia burguesa” é, na verdade, a “ditadura da burguesia”. A
“ditadura do proletariado” é um passo para abolição das classes sociais
e, então, a abertura para a democracia verdadeira – a realização na Terra
do melhor conceito de democracia, o comunismo.
A solução marxista foi experimentada na forma de leninismo e, depois, de
estalinismo, ou do sovietismo em geral. O comunismo se mostrou incapaz
de manter os ganhos de liberdade e de igualdade que a chamada
“democracia burguesa” nos havia dado. E pior, ao sufocar o capitalismo –
a economia de mercado – o regime de tipo soviético favoreceu o fim da
possibilidade da modernização tecnológica chegar às pessoas. Tal
modernização, esta sim, não era só o “consumismo”, tão criticado por
anticapitalistas de toda ordem, mas também a possibilidade de
ampliarmos nossas chances de manutenção da liberdade individual. A
Internet, os telefones celulares, a computadorização geral da vida, a
capacidade de comunicação via cabo ou via satélite, a TV interativa, etc.,
foram as conquistas de uma tecnologia que dá ao indivíduo poderes de
afrontar grupos e governantes, ainda que estes lutem para que tal poder
volte para suas mãos. O avanço tecnológico e sua socialização não
ocorreram no comunismo.Assim, a filosofia política deu sua “guinada para a América”. A idéia
básica, no interior de tal guinda, é a de que precisamos de uma teoria
para o aperfeiçoamento do liberalismo, da democracia e, agora também,
do próprio Welfare State associado à democracia. Pois a solução de
“superar dialeticamente” a democracia não foi uma boa saída. Aliás, diga-
se de passagem, a própria dialética passou a ser vista como apenas uma
fraca retórica – e mal arrumada –, e não, é claro, a forma de
desdobramento da História, como queriam alguns marxistas.
Então, voltamos nossos olhos para a filosofia política estadunidense. O
que ela tem feito a respeito da própria democracia vigente nos Estados
Unidos e a respeito da possibilidade do conceito de “América” ainda
manter sua boa relação com o conceito de “democracia”?
Todos nós sabemos que a democracia americana não é o paraíso na
Terra. A democracia americana, quando funciona bem ou quando não
funciona bem, é sempre problemática. Alguns perdem muito, ainda que
outros ganhem, quando as coisas não vão muito bem. Alguns perdem
pouco e outros não perdem, quando as coisas vão bem. Alguns até
ganham e outros não perdem muito, quando as coisas vão melhor. A
filosofia política norte-americana acredita que pode dizer mais coisas
úteis do que já disse, para o melhoramento da democracia. O que se quer
é que todos percam muito pouco, e que alguns até ganhem, mesmo
quando as coisas não vão muito bem.
A filosofia política produzida nos Estados Unidos nos últimos anos criou
teorias preocupadas com os problemas advindos da democracia que,
enfim, podem ser vistos como problemas equacionados em ecos do que
Dewey escreveu. Pois o que ele escreveu, como bem notou Sidney Hook,
deu a moldura do século XX a respeito da filosofia social em sua
apreensão do liberalismo. A Grande Depressão é, ainda, o que paira no
ar. Pois os problemas que ela estampou nos rostos dos estadunidenses, e
as soluções que engendradas para se sair dela, é o que resume o
“problema da democracia americana”. As soluções encontradas pelo
New Deal não foram todas angelicais. Não cabe aqui enveredar por
detalhes de economia. O problema aqui, eu mantenho, é o de filosofia
política. Assim, não vou identificar as questões econômicas que poderiam
estar atrapalhando a democracia americana hoje. Vou direto para o que
os filósofos políticos propuseram com o objetivo de fazer a engrenagem
democrática continuar se movendo.
Quais problemas que a filosofia política poderia equacionar,
considerando os Estados Unidos e sua democracia? Com certeza,
problemas de duas ordens: 1) problemas internos aos Estados Unidos a
respeito de direitos individuais e de justiça social; 2) problemas externos
dos Estados Unidos, ou seja, o de relacionamento com os que estão sob o
teto não democrático ou que não vivem segundo os padrões modernos do
Ocidente.
Para cada um dos problemas acima, os Estados Unidos forneceram ao
mundo uma filosofia política de primeira linha. Robert Nozick escreveu
sobre direitos individuais (e propriedade), John Rawls escreveu sobre
igualdade e justiça e Richard Rorty escreveu sobre lealdade. Ainda que
existam vários outros filósofos políticos, com teorias bastante
interessantes, esses três autores são paradigmáticos para o que exponho aqui.
Robert Nozick é o autor do clássico Anarchy, State and Utopia (1974),
onde advoga que os direitos básicos são os de vida, liberdade e
propriedade. Todavia, é o direito de propriedade – a propriedade
legalmente adquirida – que pode, de certo modo, ser a base para outros
direitos. Um estado que infrinja esse direito começaria a promover a
injustiça, seja ele um estado democrático ou não. Assim, qualquer que
seja o modo de distribuição de dinheiro que a democracia possa
promover, se insistir em tal tarefa, estará infringindo um direito básico,
que é a garantia da propriedade legal, o que iniciaria uma situação de
corrupção dos direitos.
Em geral, o contraponto a este tipo de pensamento no plano liberal é de
John Rawls, no seu clássico Theory of Justice (1972). A parte central do
trabalho explicita dois princípios para um novo e hipotético contrato
social. O primeiro princípio diz que cada indivíduo tem de ter o direito à
máxima igual liberdade compatível com uma liberdade do mesmo tipo
para todos. O segundo princípio tem duas partes; na primeira parte
afirma-se que as diferenças sociais e econômicas têm de estar atreladas
à abertura igual para todos de empregos e posições, em condições justas
de igualdade de oportunidades; na segunda parte fala-se que as tais
diferenças são justificadas somente se dão vantagem em uma situação
pior. O primeiro princípio tem prioridade sobre o segundo. Tais princípios
não são regras para a política propriamente dita, mas leis para o
funcionamento melhor da sociedade como um todo, em sua dinâmica total
que interliga política, economia e vida social como elementos da
estrutura da comunidade moderna justa.
O debate entre rawlsonianos e nozickinianos é, em grande medida,
atinente ao funcionamento interno da democracia – em especial a
democracia estadunidense. O ponto de atenção de Richard Rorty,
principalmente em seus Philosophical Papers (três volumes publicados
entre 1991 e 1998; no Brasil, traduzi alguma coisa em Pragmatismo e
filosofia (Martins, 2005) e Para realizar a América (DPA, 2000)), no que
este filósofo tem de diferente dos outros, é o modo como ele propõe
redescrever termos da polêmica ético-política a respeito de como o
Ocidente pode lidar com “os outros”. Rorty fornece meios para uma
alteração da política externa da democracia estadunidense.
Em geral, quando “os outros” agem de maneira a serem leais em relação
a seus clãs e nações, eles são acusados de praticarem atos não racionais
e, no limite, não morais. Segundo tal raciocínio, quem é leal ao clã não
pode ser devoto da humanidade e servo da razão, e então estará sempre
na iminência de cometer falta moral. Esta forma de pensar, para Rorty,
advém da ética ligada à idéia de que regras morais são produtos da razão
ahistórica. Para ele, uma ética que leve em consideração a gênese de
nossos procedimentos morais, mostrará que aprendemos como
“comportamento moral” antes a lealdade aos que estão mais próximos –
família ou clã, e depois cidade ou nação – do que a lealdade aos que estão
mais distantes. Assim, se a moralidade é construída historicamente, não
há como não entendê-la como sendo graus de lealdade. Descrevendo a
moralidade segundo graus de lealdade, poder-se-á, talvez, dizer dos
“outros” que eles, ao serem fiéis a interesses que parecem particulares
para “nós”, estão sendo tão morais quanto aqueles que fizeram de seus grupos a humanidade e de seu deus a razão.
Ficaria mais fácil solicitar aos “outros” que se sentassem à mesa de
negociação se os tratássemos como tão morais quanto “nós”. Não é difícil
assim agir, uma vez que o que está em questão é a lealdade ao que
fornece mais vínculos, sendo que é a lealdade, segundo este
entendimento, o elemento originário da moralidade. Ficaria mais fácil
solicitar a “nós” que sentássemos à mesa de negociação se pudéssemos
admitir que a chamada “humanidade” não vai aderir ao que é a “nossa
causa” imediatamente, uma vez que tanto “nós” quanto esse grupo
enorme que é denominado de “humanidade” ganha seus fiéis de maneira
paulatina, a partir da modificação que fazemos em relação às nossas
lealdades iniciais, que são para com o clã, cidade, nação etc.
A propriedade adquirida por meios legítimos (de Nozick), a igualdade
liberal (de Rawls) e os laços de lealdade como bases da construção moral
(de Rorty) formam, sem dúvida, um conjunto de idéias que compõem um
legado intelectual, bastante atual, que vem do Norte e que, se absorvidos
por nós, brasileiros, não deixaria nem Tiradentes, nem Lobato e nem
Anísio Teixeira descontentes. Eles ficariam felizes se nossa juventude
pudesse aprender a distinguir o que John Dewey distinguia, ou seja,
“América” e “Estados Unidos”. Achariam úteis os equacionamentos de
Nozick, Rawls e Rorty aos problemas da democracia americana enquanto
Welfare State.
Mas tudo isso, possui condições de ser ponderado no Brasil? Creio que
sim. Cada vez mais o Brasil dá passos no sentido de se convencer que
talvez não tenhamos muito que fazer fora do liberalismo e da democracia,
e que isso não será uma restrição à imaginação ou ação. Ao contrário, se
tivermos de procurar soluções para o liberalismo e para a democracia, o
que o pensamento norte-americano nos mostra é que o debate é rico e
fértil. Só aparentemente estamos em um campo mais estreito de
pensamento – a tal da idéia do “pensamento único” foi um sonho no qual
Pierre Bourdieu quis acreditar pois isso dava sobrevida ao seu marxismo.
Nunca existiu “pensamento único”, que teria ficado vigente por causa do
mundo ter optado por viver sob o capitalismo e por conta dos filósofos
políticos terem se interessado em se manter, quase todos eles, como
democratas. Pois não há consenso sobre como fazermos o liberalismo, a
democracia e o Welfare State melhorarem. Se há um consenso, é o de
que teremos de nos acostumar a ver o debate ser cada vez mais interno.
Ou seja, interno ao liberalismo e à democracia, em parte, ao Welfare
State. Os debates da filosofia social e política serão cada vez menos
ligados a problemas tais como “socialismo versus capitalismo”. Cada vez
mais os debates serão em torno de questões internas à democracia e ao
liberalismo. E isso no sentido de que os problemas serão os de ampliação
de direitos individuais, criação de novos direitos, capacidade de fazer
valer a vontade da maioria sem que isso signifique esmagamento de
minorias, ampliação de chances de realização pessoal, ampliação de
chances de felicidade individual, tomando esta não apenas como bem
estar espiritual, mas também como capacidade de usufruir livremente,
sem dano, de prazeres corporais. Nossa agenda, tudo indica, será
composta por tópicos que não mais descartarão a democracia – ao
menos no que se refere menos à política e mais à filosofia política.
©São Paulo, dezembro de 2005.
Portado por professor Robério as 17:13:00

POR UMA EDUCAÇÃO PARA O PENSAR: Importância da Filosofia no Ensino

POR UMA EDUCAÇÃO PARA O PENSAR: Importância da Filosofia no Ensino

POR UMA EDUCAÇÃO PARA O PENSAR: O QUE É FILOSOFIA, PROFESSOR? E PARA QUE SERVE?

POR UMA EDUCAÇÃO PARA O PENSAR: O QUE É FILOSOFIA, PROFESSOR? E PARA QUE SERVE?

5/01/2008

Motivação

Motivação
Emiliana Maria Teixeira

Que tipo de motivação você está dando ao seu aluno? Você parou para observar como seu aluno sai de casa e chega na sala de aula? Em como está sua cabecinha naquele momento? O que aconteceu com ele naquele dia, em sua casa, na rua ou outro lugar? Qual o maior e principal objetivo que o aluno tem para freqüentar a escola? Você parou para pensar que cada aluno é especial, que cada um deve ser tratado separadamente, que cada caso é um caso? É, se ainda não reparou, então como dizer que conhece seu aluno? Mas ainda há tempo para parar, pensar, refletir, mudar e começar a ver melhor com mais profundidade o seu aluno.

Os profissionais da educação se lamentam, se queixam, acusam, culpam e não param para refletir que o problema do insucesso na escola, das notas ruins, da evasão, da indisciplina, etc. e tal, nem sempre é culpa do aluno e nem do governo. Tudo bem que a educação em nosso país não seja priorizada, que as dificuldades na escola são inúmeras, os problemas são inúmeros, mas nem por isso devemos deixar de nos dedicarmos, reciclarmos, capacitarmos, lermos muito, de buscarmos novas formas de entusiasmo e motivação. Isso mesmo, motivação é o que está faltando na maioria dos profissionais da educação!

Não se deve permanecer na mesmice, deixar rolar sem nada fazer para mudar. Devemos fazer com que o aluno se sinta motivado, não somente a vir à escola por vir, mas, sim, para aprender, buscar conhecimentos, crescer; vir à escola por se sentir bem, por ser bem tratado, respeitado e valorizado.

Por isso, se faz necessário repensarmos nossa prática pedagógica e permitir, dentro de nós mesmos, a mudança, o reconhecimento de que algo está errado; de que algo está acontecendo e que devemos fazer alguma coisa imediatamente para reparar o que está errado. É preciso que haja reflexão para entender porque os alunos estão se afastando da escola e aceitar a possibilidade de que os mesmos podem não estar encontrando lá o que mais precisam. Se faz necessário que se abram as portas e as janelas da escola e do íntimo de cada profissional da educação, e deixar que os alunos se manifestem e mergulhem profundamente naquilo que eles realmente necessitam. Vamos resgatá-lo enquanto há tempo!

Sabemos que é necessário conhecer os alunos na sua totalidade para que se possa fazer alguma coisa para ajudá-los em seu fracasso escolar; não podemos esquecer que cada um tem um problema diferente, vem de famílias desestruturadas – o pai bebe, o irmão é drogado, a irmã caiu na prostituição, a mãe sofre com tudo isso e outros problemas mais. São vários os problemas familiares, mas que todos são fatais para que a auto-estima deles estejam em baixa, e tudo isso pode afetar na aprendizagem, no sucesso escolar. Por esses e outros motivos é que os profissionais da educação precisam ficar atentos, observar, investigar, se envolver nos problemas da família, trabalhar antes de tudo a família; devem estudar, rever as metas, os objetivos, planejar , avaliar e buscar formas de motivação, pois só uma boa e grandiosa motivação pode mudar a situação, pode tirar a educação da crise, crise essa que se originou das mudanças, mudanças em todos os sentidos, na família, relacionamentos, idade, idéias, status, no trabalho, na escola, hábitos e comportamentos no dia-a-dia; diante disto podemos até dizer que o motivo dessa crise se deu pelo fato da má administração dessas mudanças. É complicado ceder às mudanças, se adaptar as mesmas e transformar a situação. Mas é possível sim.

Sabemos que a diversidade de personalidade e situações pelos quais passam nossos alunos é enorme, incalculável, pois temos alunos de várias caras, tipos, formas, embalagens, tamanhos, cor, gosto... que cada um necessita de nossa atenção especial, de um olhar amigo, um sorriso, um gesto carinhoso, amor.

Isso mesmo, estamos numa época em que a tecnologia está predominando enquanto os sentimentos, a emoção ficam esquecidos. Diante desse fato, meus caros amigos educadores, com certeza será através da emoção que iremos mudar a situação, transformar a educação. No entanto, busquem um bom estado de espírito, utilizem suas habilidades e competências, procurem sempre estar em sintonia, busquem entusiasmo, amor à profissão e bastante motivação, pois motivação gera satisfação. Satisfação gera ação, e ação, transformação. Assim, o sucesso estará garantido para todos.

O bom humor do professor

O bom humor do professor

O ser humano é um animal que ri. Pode parecer uma afirmativa leviana, mas o riso, a alegria, e suas manifestações, fazem diferença para que o homem seja quem é. Pesquisadores, antropólogos e escritores já analisaram essa característica e concluíram que os homens melhoram quando riem. Henri Bergson, por exemplo, escreveu como tese de doutoramento “O riso – ensaio sobre a significação do cômico”.

Há muitos autores que insistem na tese de que não é possível ao ser humano desenvolver as suas potencialidades sem leveza. Aristóteles, no Liceu, já falava sobre a importância do lazer, do entretenimento para auxiliar o aluno a encontrar o verdadeiro significado da educação, qual seja, a felicidade.

Um professor aberto, leve, divertido facilita o processo de aprendizagem. Isso não significa que deva utilizar o aluno como objeto de gracejos vulgares para fazer a classe rir. O bom humor não é sinônimo de indelicadeza nem de grosseria.
A atitude do professor deve ser a atitude de quem acolhe e espera ser acolhido; de quem semeia e acredita no plantio e na colheita; de quem partilha e conhece o poder da generosidade.

O tratamento que aluno e professor merecem é o tratamento de respeito, de cumplicidade. Isso amplia os horizontes das relações e faz com que os professores sejam de fato referenciais para os seus alunos. Se assim não fosse, o aluno poderia aprender com o que está disponível na rede. A internet transformou-se em uma porta aberta para o mundo da informação. Entretanto, não tem o poder de alimentar os sonhos que Sócrates sonhava em sua maiêutica. A parturição das idéias requer um mestre disponível. Partícipe e cúmplice. Instigador e apoiador. Amigo, enfim.

A criança imita atitudes, no processo de construção de sua identidade. Desenvolve habilidades e competências com base no que percebe em casa, inicialmente, e na escola, depois. Os bloqueios também começam a aparecer, muitas vezes por causa de atitudes quase sempre irrefletidas dos pais e dos educadores: apatia, indiferença, impaciência, intolerância, incompaixão. E talvez não haja nada que intimide mais uma criança do que a apatia. Quando diz alguma coisa e não encontra reação alguma. Quando espera e não recebe. Quando joga sozinha em um universo solitário de abandono. Isso é tão grave quanto uma palavra ríspida dita sem contexto apenas para agredir ou para se ver livre de um intruso que faz perguntas sistematicamente. É desastrosa para o processo educativo de uma criança a atitude dos pais ou dos professores que inibem as perguntas. Os filhos ou os alunos não devem ter medo dos pais ou dos professores. O respeito é bem-vindo; o medo não. O medo paralisa. O respeito educa.

A atitude correta de pais e professores é a proteção. Não a proteção que engole, que apequena, que aprisiona. Mas a proteção que acolhe, que cuida, que prepara para o desenvolvimento da autonomia e do sonho. A criança tem de ser incentivada a sonhar e a realizar desde sempre.

Aí está o papel do bom humor. É amenizar o coração. E assim permitir que as pessoas tenham atitudes igualmente amenas. O sorriso no rosto reflete e até condiciona o estado de espírito. O professor que sorri certamente terá mais inclinação para fazer comentários positivos sobre as diferenças de cultura, ideologia, classe social, gênero etc.

A literatura está cheia de exemplos de bom humor. Mário Quintana é um deles. Em pequenas doses de poesia, alimenta o que ele mesmo chama de “gosto de estrelas na boca...” – que metáfora fascinante. É esse gosto que faz com que o professor se realimente para partilhar o que sabe e o que está aberto a aprender.
Lygia Fagundes Telles, no conto Eu era mudo e só, tem um trecho divertido do personagem Manuel, que se sente oprimido pelo casamento: “Ou a mulher fica aquele tipo de amigona e etc. e tal ou fica de fora. Se fica de fora, com a famosa sabedoria da serpente misturada à inocência da pomba, dentro de um tempo mínimo conseguirá indispor a gente de tal modo com os amigos que quando menos se espera estaremos distantes deles as vinte mil léguas submarinas. No outro caso, se ficar a tal que seria nosso amigo se fosse homem, acabará gostando tanto dos nossos amigos, mas tanto, que logo escolherá o melhor para se deitar. Quer dizer, ou vai nos trair ou chatear. Ou as duas coisas...”

Toda pessoa pode ser assertiva sem ser amarga. Toda pessoa é capaz de docilidade e de ternura. Basta desfazer as rugas da testa. Suavizar o rosto para suavizar a alma. Porque o que sentimos repercute na forma com que tratamos o outro. E, sem dúvida, a atitude do professor é essencial para o resultado do aprendizado.

Há muitas informações que vão sendo oferecidas aos alunos e, aos poucos, descartadas. Isso faz parte do desenvolvimento cognitivo. Ninguém é capaz de memorizar tudo o que aprendeu desde sempre. Datas são esquecidas, nomes, lugares. Conteúdos específicos, se não utilizados, ficam armazenados em algum lugar, e não representam mais significado. Mas há algo que não sai jamais da memória: o gesto amigo, o acolhimento e o sorriso no rosto.

Palavras óbvias mas nem sempre usadas podem ajudar a construir um clima ameno em uma sala de aula: “bom-dia”, “parabéns”, “belo trabalho”, “como foi o final de semana”, “essa matéria é muito legal, vocês vão ver”, “que pena, acabou a aula, amanhã a gente continua”, etc.

O professor que traz na fronte e nos gestos o bom humor, acolhe com mais facilidades os seus alunos. E quem nesse mundo não gosta de ser acolhido?!

Gabriel Chalita

3/30/2008

Os Estatutos do Homem

Poema

Os Estatutos do Homem (Ato Institucional Permanente)
Thiago de Mello

Artigo I
Fica decretado que agora vale a verdade.
agora vale a vida,
e de mãos dadas,
marcharemos todos pela vida verdadeira.

Artigo II
Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se em manhãs de domingo.
Artigo III
Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança.

Artigo IV
Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do céu.
Parágrafo único:
O homem, confiará no homem
como um menino confia em outro menino.

Artigo V
Fica decretado que os homens
estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar
a couraça do silêncio
nem a armadura de palavras.
O homem se sentará à mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida
antes da sobremesa.

Artigo VI
Fica estabelecida, durante dez séculos,
a prática sonhada pelo profeta Isaías,
e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.
Artigo VII
Por decreto irrevogável fica estabelecido
o reinado permanente da justiça e da claridade,
e a alegria será uma bandeira generosa
para sempre desfraldada na alma do povo.

Artigo VIII
Fica decretado que a maior dor
sempre foi e será sempre
não poder dar-se amor a quem se ama
e saber que é a água
que dá à planta o milagre da flor.
Artigo IX
Fica permitido que o pão de cada dia
tenha no homem o sinal de seu suor.
Mas que sobretudo tenha
sempre o quente sabor da ternura.

Artigo X
Fica permitido a qualquer pessoa,
qualquer hora da vida,
uso do traje branco.

Artigo XI
Fica decretado, por definição,
que o homem é um animal que ama
e que por isso é belo,
muito mais belo que a estrela da manhã.

Artigo XII
Decreta-se que nada será obrigado
nem proibido,
tudo será permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa begônia na lapela.
Parágrafo único:
Só uma coisa fica proibida:
amar sem amor.

Artigo XIII
Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar
o sol das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo,
o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar
e a festa do dia que chegou.
Artigo Final.
Fica proibido o uso da palavra liberdade,
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada será sempre
o coração do homem.

IGUALDADE

Igualdade

Que deve um cão a um cão, um cavalo a um cavalo?
Nada. Nenhum animal depende de seu semelhante. Tendo porém o homem recebido o raio da Divindade que se chama razão, qual foi o resultado? Haver escravos em quase toda a terra.
Se o mundo fosse o que parece dever ser, isto é, se em toda parte os homens encontrassem subsistência fácil e certa e clima apropriado à sua natureza, impossível teria sido a um homem servir-se de outro. Cobrisse-se o globo de frutos salutares. Não fosse veículo de doenças e morte o ar que contribui para a existência humana. Prescindisse o homem de outra morada e de outro leito além do dos gansos e capros monteses, não teriam os Gengis Cãs e Tamerlões vassalos sendo os próprios filhos, os quais seriam bastante virtuosos para auxilia-los na velhice.
No estado natural de que gozam os quadrúpedes aves e répteis, tão feliz como eles seriam o homem, e a dominação, quimera, absurdo em que ninguém pensaria: para que servidores se não tivésseis necessidade de nenhum serviço?
Ainda que passasse pelo espírito de algum indivíduo de bofes tirânicos e braços impacientes por submeter seu vizinho menos forte que ele, a coisa seria impossível: antes que o opressor tivesse tomado suas medidas o oprimido estaria a cem léguas de distâncias.
Todos os homens seriam necessariamente iguais, se não tivessem precisões. A miséria que avassala a nossa espécie subordina o homem ao homem. O Verdadeiro mal não é a desigualdade: é a dependência. Pouco importa chamar-se tal homem Sua Alteza, tal outro Sua santidade. Duro porém é servir um ao outro.
Uma família numerosa cultivou um bom terreno. Duas famílias vizinhas têm campos ingratos e rebeldes: impõe-se-lhes servir ou eliminar a família opulenta. Uma das duas famílias indigentes vai oferecer seus braços à rica para ter pão. A outra vai ataca-la e é derrotada. A família servente é fonte de criados e operários. A família subjugada é fonte de escravos.
Impossível neste mundo miserável, que a sociedade humana não seja dividida em duas classes, uma de opressores, outra de oprimido. Essas duas classes se subdividem em mil outras, essas outras em sem conta de nomes diferentes.
Nem todos os oprimidos são absolutamente desgraçados. A maior parte nasce nesse estado, e o trabalho contínuo impede-os de sentir toda a miséria da própria situação. Quando a sentem, porém, são guerras, como a do partido popular contra o partido do senado em Roma, as dos camponeses na Alemanha, Inglaterra, França. Mais cedo ou mais tarde todas essas guerras desfecham com a submissão do povo, porque os poderosos têm dinheiro e o dinheiro tudo pode no Estado. Digo no Estado, porque o mesmo não se dá de nação para nação. A nação que melhor se servir do ferro sempre subjugara a que, embora mais rica, tiver menos coragem.
Todo homem nasce com forte inclinação para o domínio, para riqueza, prazeres e sobretudo para indolência. Todo homem, portanto quereria estar de posse do dinheiro e das mulheres ou das filhas dos outros, ser-lhes senhor, sujeitá-los a todos os seus caprichos e nada fazer, ou pelo menos só fazer coisas muitos agradáveis. Vedes que com estas excelentes disposições é tão difícil aos homens ser iguais quanto a dois pregadores ou professores de teologia não se invejarem.
Tal como é impossível o gênero humano substituir, a menos que haja infinidade de homens úteis que nada possuam. Porque, claro é que um homem satisfeito não deixará sua terra para vir lavrar a vossa. E se tiverdes necessidade de um par de sapatos, não será um referendário que vo-lo fará. Igualdade é pois a coisa mais natural e ao mesmo tempo a mais quimérica.
Como se excedem em tudo que deles dependa, os homens exageram essa desigualdade. Pretendeu-se em muitos países proibir aos cidadãos sair do lugar em que ventura os fizera nascer. O sentido dessa lei é visivelmente: Este país é tão um e tão mal governado que vedamos a todo o indivíduo dele sair, por temor que todos o desertem. Fazei melhor: infundir em todos os vossos súditos o desejo de permanecer em vosso Estado, e aos estrangeiros o desejo de para aí vir.
Nos íntimos refolhos do coração, todo homem tem direito de crer-se de todo ponto igual aos outros homens. Daí não segue dever o cozinheiro de um cardeal ordenar a seu senhor que lhe faça o jantar; pode todavia dizer: “Sou tão homem como meu amo; nasci como ele, chorando; como eu, ele morrerá nas mesma angústias e com as mesma cerimônias. Temos ambos as mesma funções animais...
Um homem que não seja cozinheiro de cardeal nem ocupe nenhum cargo no Estado; um particular que nada tenha de seu mas a quem repugne o ser em toda parte recebido com ar de proteção ou desprezo; um homem que veja que muitos monsignori não têm mais ciência, nem mais espírito, nem mais virtude que ele, e que se enfade de esperar em suas antecâmaras, que partido deve tomar? O da morte.
VOLTAIRE. Dicionário Filosófico. Coleção obra-prima de cada autor. Tradução Pietro Nassetti. São Paulo: Martin Claret, 2002. p. 295-297

3/24/2008

GAIOLAS?

GAIOLA?
(Rubem Alves)

Há as feitas com ferro e cadeados.
Mas as mais sutis são feitas com desejos.
Esquisito o que vou dizer: a alma é uma biblioteca.
Nela se encontram as estórias que amamos.
Romeu e Julieta, Abelardo e Heloisa, O paciente inglês, As pontes de Madison, Amor nos tempos do cólera, A menina e o pássaro encantado.
As estórias que amamos revelam a forma do nosso desejo.
Delas, escolhemos uma.
É a nossa gaiola. Gaiola na mão, saímos pela vida à procura do nosso Pássaro.

Quando imaginamos havê-lo encontrado...
Que felicidade! Ficará feliz em nossa gaiola.
Será o amante da nossa estória de amor: eu para você, você para mim... Nós o colocamos lá dentro e pedimos que nos cante canções de amor.
Acontece que o Pássaro também tinha a sua estória.
E era outra. Todo Pássaro deseja voar.
Ele bate suas asas contra as grades, suas penas
perdem as cores e o seu canto se transforma em choro.
E, de repente, ele se transforma.
Não mais o reconhecemos.
É um outro.
Essa é a razão por que a dor da paixão satisfeita é muito maior.
Contada assim, a estória parece ter um vilão e uma vítima.
A verdade é que os dois são vilões, os dois são vítimas.
O desejo da gente é sempre engaiolar o outro e levá-lo pelos caminhos que são nossos.
Isso vale para tudo: marido-mulher, pai-filha, mãe-filho, patrão-empregado, professor-aluno...
Não admira que Sartre tenha dito que "o inferno é o outro".
Não haverá uma saída.
Lembro-me de um pequeno poema de Pearls que sugere a possibilidade de uma relação sem gaiolas:
Eu sou eu.
Você é você.
Eu não estou neste mundo para atender às suas expectativas.
E você não está neste mundo para atender às minhas expectativas.
Eu faço a minha coisa.
Você faz a sua.
E quando nos encontramos
É muito bom.

*****

9/03/2007

SE EU FOR, QUANDO EU FOR .........



Se eu for impaciente e começar a dizer o que não devo, põe de leve os teus dedos sobre a minha boca e lembre-me que há momentos em que é melhor calar. Se eu for igual a um surdo e teimar em não querer escutar, fale mais baixinho, fale quase num sussurro;


Fale com o teu interior, quase em silêncio, aí eu terei de esforçar-me para ouvir-te e então que poderei escutar-te melhor.
Quando eu for um sorriso, abre teu coração para guardar o momento em que sorri porque, quando eu estiver triste, ligarei tuas lembranças e ouvirei de novo aquele instante em que fui tão feliz que até me dei ao luxo de sorrir.Quando eu for desespero e desencontro, que sejas tu a dizer-me que nem tudo está perdido;


eu entenderei que desejas animar-me e devolver a minha confiança perdida, assim pelo menos poderei tentar de novo. Se eu partir, se eu for embora, que tenhas a coragem de buscar-me ou a paciência de esperar pelo meu retorno ....Se me buscares, eu diminuirei meus passos para que me alcances e se eu souber que me esperas, voltarei e, de um modo ou de outro, ficaremos juntos outra vez.


Quando eu for erro, ensina-me o certo, e quando errar de novo perdoa-me, porque no primeiro caso, eu aprenderei;


No segundo caso, eu chegarei a ter vergonha de haver errado.
Quando eu for pergunta é preciso que sejas tu a resposta porque, se não o fores, a esfinge continuará indecifrada e ficará nas areias do deserto sem solução.


Quando eu for inteira tristeza, guarda minha mágoa contigo, assim ninguém mais se contaminará com o que sofro e tu me ajudará a carregar o mar imenso de minhas lágrimas.Quando eu for tempestade que sejas tu a bonança e o tranqüilo porto onde deverá chegar meu barco desarvorado e sem rumo... Enfim, quando eu for saudade, que eu seja realmente saudade:
Se no purgatório estiver, a saudade será refrigério que me aliviará, o consolo que me confortará;
Se eu estiver onde dizem que não há dor, em que o sofrimento não chega, a saudade de ti será então a dor única que ali terá chegado, a lembrar-me de que, sem ti, eu não cheguei de todo e a felicidade ainda não a conquistei,
nem chegando à bem-aventurança, já que a saudade me dirá serena que a felicidade ficou onde estás, que a minha ventura permaneceu contigo.

(Do livro: Por encanto, só por enquanto - de José Wanderley Dias)

Obs: José Wanderley Dias, faleceu em um acidente junto com a esposa Dnª Neusa.
Dias antes de morrer, escreveu uma crônica com a poesia acima.




RELIGIÃOEM BUSCA DA TRANSCENDÊNCIAO QUE É RELIGIÃO?

QUAL A DIFERENÇA DE SEITA?MITOLOGIA É RELIGIÃO? O QUE É HERESIA?


RELIGIÃO deriva do termo latino "Re-Ligare", que significa "religação" com o divino. Essa definição engloba necessariamente qualquer forma de aspecto místico e religioso, abrangendo seitas, mitologias e quaisquer outras doutrinas ou formas de pensamento que tenham como característica fundamental um conteúdo Metafísico, ou seja, de além do mundo físico.
Sendo assim o hábito, geralmente por parte de grupos religiosos de taxarem tal ou qual grupo religioso rival de seita, não têm apoio na definição do termo. SEITA, derivado da palavra latina "Secta", nada mais é do que um segmento minoritário que se diferencia das crenças majoritárias, mas como tal também é religião.


HERESIA é outro termo mal compreendido. Significa simplesmente um conteúdo que vai contra a estrutura teórica de uma religião dominante. Sendo assim o Cristianismo foi uma Heresia Judáica assim como o Protestantismo uma Heresia Católica, ou o Budismo uma Heresia Hinduísta.

A MITOLOGIA é uma coleção de contos e lendas com uma concepção mística em comum, sendo parte integrante da maioria das religiões, mas suas formas variam grandemente dependendo da estrutura fundamental da crença religiosa. Não há religião sem mitos, mas podem existir mitos que não participem de uma religião.

MÍSTICA pode ser entendida como qualquer coisa que diga respeito a um plano sobre material. Um "Mistério".
Veja aqui uma lista de palavras relacionadas e seus significados.
PRESENÇA DA RELIGIÃO EM TODA A CULTURA HUMANA
Não há registro em qualquer estudo por parte da História, Antropologia, Sociologia ou qualquer outra "ciência" social, de um grupamento humano em qualquer época que não tenha professado algum tipo de crença religiosa. As religiões são então um fenômeno inerente a cultura humana, assim como as artes e técnicas.

Grande parte de todos os movimentos humanos significativos tiveram a religião como impulsor, diversas guerras, geralmente as mais terríveis, tiveram legitimação religiosa, estruturas sociais foram definidas com base em religiões e grande parte do conhecimento científico, "filosófico" e artístico tiveram como vetores os grupos religiosos, que durante a maior parte da história da humanidade estiveram vinculados ao poder político e social.

Hoje em dia, apesar de todo o avanço científico, o fenômeno religioso sobrevive e cresce, desafiando previsões que anteveram seu fim. A grande maioria da humanidade professa alguma crença religiosa direta ou indiretamente e a Religião continua a promover diversos movimentos humanos, e mantendo estatutos políticos e sociais.
Tal como a Ciência, a Arte e a Filosofia, a Religião é parte integrante e inseparável da cultura humana, é muito provavelmente sempre continuará sendo.
Veja aquiMinha teoria Psicogênica da ReligiãoMinha teses sobre a relação entre Ética e Religião

TIPOS DE RELIGIÕES
Há várias formas de religião, e são muitos os modos que vários estudiosos utilizam para classificá-las. Porém há características comuns às religiões que aparecem com maior ou menor destaque em praticamente todas as divisões.

A primeira destas características e cronológica, pois as formas religiosas predominantes evoluem através dos tempos nos sucessivos estágios culturais de qualquer sociedade.
Outro modo é classificá-las de acordo com sua solidez de princípios e sua profundidade filosófica, o que irá separá-las em religiões com e sem Livros Sagrados.
Pessoalmente como um estudioso do assunto, prefiro uma classificação que leva em conta essas duas características, e divide as religiões nos seguintes 4 grandes grupos distintos.
PANTEÍSTAS
POLITEÍSTAS
MONOTEÍSTAS
ATEÍSTAS
Nessa divisão há uma ordem cronológica. As Religiões PANTEÍSTAS são as mais antigas, dominando em sociedades menores e mais "primitivas". Tanto nos primórdios da civilização mesopotâmica, européia e asiática, quanto nas culturas das Américas, África e Oceania.

As Religiões POLITEÍSTAS por vezes se confundem com as Panteístas, mas surgem num estágio posterior do desenvolvimento de uma cultura. Quanto mais a sociedade se torna complexa, mais o Panteísmo vai se tornando Politeísmo.
Já as MONOTEÍSTAS são mais recentes, e atualmente as mais disseminadas, o Monoteísmo quantitativamente ainda domina mais de metade da humanidade.
E embora possa parecer estranho, existem religiões ATEÍSTAS, que negam a existência de um ser supremo central, embora possam admitir a existência de entidades espirituais diversas. Essas religiões geralmente surgem como um reação a um sistema religioso Monoteísta ou pelo menos Politeísta, e em muitos aspectos se confunde com o Panteísmo embora possua características exclusivas.

Essa divisão também traça uma hierarquia de rebuscamento filosófico nas religiões. As Panteístas por serem as mais antigas, não têm Livros Sagrados ou qualquer estabelecimento mais sólido do que a tradição oral, embora na atualidade o renascimento panteísta esteja mudando isso. Já as politeístas muitas vezes possuem registros de suas lendas e mitos em versão escrita, mas Nenhuma possui uma REVELAÇÃO propriamente dita. Isto é um privilégio do Monoteísmo. TODAS as grandes religiões monoteístas possuem sua Revelação Divina em forma de Livro Sagrado. As Ateístas também possuem seus livros guias, mas por não acreditarem num Deus pessoal, não tem o peso dogmático de uma revelação divina, sendo vistas em geral como tratados filosóficos.
Vejamos alguns quadros comparativos.


ÉPOCAS DE SURGIMENTO E PREDOMÍNIO.
PANTEÍSMO:
As mais antigas, remontando a pré-história onde tinham predominância absoluta, e também presentes em muitos dos povos silvícolas das Américas, África e Oceania.
POLITEÍSMO:
Surgem num estágio posterior de desenvolvimento social, tendo sido predominantes na Idade Antiga em todo o velho mundo, e mesmo nas civilizações mais avançadas das Américas pré-colombianas.

MONOTEÍSMO:
Mais recentes, surgindo a partir do último milênio aC e predominando da Idade Média até a atualidade.

ATEÍSMO:
Surgem a partir do século V aC, tendo vingado somente no Oriente e no Ocidente ressurgindo somente após a renascença numa forma mais filosófica que religiosa.
Neo PANTEÍSMO:
Embora possuam representantes em todos os períodos históricos, popularizam-se ou surgem a partir do século XVIII.


BASE LITERÁRIA
PANTEÍSMO:
Próprias de culturas ágrafas, não possuem em geral qualquer forma de base escrita, sendo transmitidas por tradição oral.

POLITEÍSMO:
Nas sociedades letradas possuem frequentemente registros literários sobre seus mitos, e mesmo nas ágrafas possuem tradições icônicas mais elaboradas.

MONOTEÍSMO:
Possuem Livros Sagrados definidos e que padronizam as formas de crença, servindo como referência obrigatória e trazendo códigos de leis. São tidos como detentores de verdades absolutas.

ATEÍSMO:
Possuem textos básicos de conteúdo predominantemente filosófico, não possuindo entretanto força dogmática arbitrária ainda que sendo também revelados por sábios ou seres iluminados.

Neo PANTEÍSMO:
Seus textos são em geral filosóficos, embora possuam mais força doutrinária, não incorrendo porém em dogmas arbitrários.


MITOLOGIA
PANTEÍSMO:
Deus é o próprio mundo, tudo está interligado num equilíbrio ecossistêmico e místico. Crê-se em espíritos e geralmente em reencarnação, é comum também o culto aos antepassados. Procura-se manter a harmonia com a natureza, e o mundo comummente é tido como eterno.
POLITEÍSMO:
Diversos deuses criaram, regem e destroem o mundo. Se relacionam de forma tensa com os seres humanos, não raro hostil. As lendas dos deuses se assemelham a dramas humanos, havendo contos dos mais diversos tipos.
MONOTEÍSMO:
Um Ser transcendente criou o mundo e o ser humano, há uma relação paternal entre criador e criaturas. Na maioria dos casos um semi-deus se rebela contra o criador trazendo males sobre todos os seres. Messias são enviados para conduzir os povos, profetiza-se um evento renovador violento no final dos tempos, onde a ordem será restaurada pela divindade.
ATEÍSMO:
O Universo é uma emanação de um princípio primordial "vazio", um Não-Ser. Crê-se na possibilidade de evolução espiritual através de um trabalho íntimo, crê-se em diversos seres conscientes dos mais variados níveis, e geralmente em reencarnação.
Neo PANTEÍSMO:
Acredita-se em geral no Monismo, um substância única que permeia todo o Universo num Ser único. São em geral reencarnacionistas e evolutivas. A desatribuição de qualidades do Ser supremo por vezes as confunde com o Ateísmo.


SÍMBOLOS
PANTEÍSMO:
Utilizam no máximo totens e alguns outros fetiches, é comum o uso de vegetais, ossos, ou animais vivos ou mortos.
POLITEÍSMO:
Surgem os ídolos zoo ou antropomórficos na forma de pinturas e esculturas em larga escala. A simbologia icônica se torna complexa em alguns casos resultando em formas de escrita ideográfica.
MONOTEÍSMO:
O Deus supremo geralmente não possui representação visual, mas os secundários sim. Utilizam símbolos mais abstratos e de significados complexos.
ATEÍSMO:
O Não-Ser supremo não pode ser representado, mas há muitas retratações dos seres iluminados. Há vários símbolos representativos da natureza e metafísica do Universo.
Neo PANTEÍSMO:
Diversos símbolos e mitos de diversas outras religiões são resgatados e reinterpretados, também não há representação específica do Ser Supremo mas pode haver de outros seres elevados.


RITUAIS
PANTEÍSMO:
Geralmente ligados a natureza e ocorrendo em contato com esta. É comum o uso de infusões de ervas, danças, oráculos e cerimônias ao ar livre.
POLITEÍSMO:
Passam a surgir os templos, embora em geral não abandonem totalmente os rituais ao ar livre. Em muitos casos ocorrem os sacrifícios humanos, oráculos e as feitiçarias de controle ambiental.
MONOTEÍSMO:
Geralmente restritas ao templos, as hierarquias ritualistas são mais rígidas, não há oráculos pessoais mas sim profecias generalizadas com base no livro sagrado. Não há rituais de controle ambiental.
ATEÍSMO:
Embora ainda comuns nos templos são também frequentes fora destes. Desenvolvem-se técnicas de concentração, meditação e purificação mais específicas, baseadas antes de tudo no controle dos impulsos e emoções.
Neo PANTEÍSMO:
Em geral baseados no uso de "energias" da natureza. Não mais têm influência nos processos civis, sendo restritos a curas, proteção contra ameaças físicas e extrafísicas.


EXEMPLOS
PANTEÍSMO:
Religiões silvícolas, xamanismo, religiões célticas, druidismo, amazônicas, indígenas norte americanas, africanas e etc.
POLITEÍSMO:
Religião Grega, Egípcia, Xintoísmo, Mitologia Nórdica, Religião Azteca, Maia etc.
MONOTEÍSMO:
Bhramanismo, Zoroastrismo, Judaísmo, Cristianismo, Islamismo, Sikhismo.
ATEÍSMO:
Orientais: Taoísmo, Confucionismo, Budismo, Jainismo.Ocidentais: Filosofias NeoPlantônicas, Ateísmo Filosófico (Não Religioso)
Neo PANTEÍSMO:
Espiritsmo Kardecista*, Racionalismo Cristão, Neo-Gnosticismo, Teosofia, Wicca, "Esotéricas", etc.

*Apesar do Kardecismo não se considerar Panteísta e sim antes Monoteísta.
PANTEÍSMO
As religiões primitivas são PANTEÍSTAS, acredita-se num grande "Deus-Natureza". Todos os elementos naturais são divinizados, se atribuí "inteligências" espirituais ao vento, a água, fogo, populações animais e etc.
Há uma clara noção de equilíbrio ecossistêmico, onde é comum ritos de agradecimento pelas dádivas naturais e pedidos às divindades da natureza, em alguns casos requisitando autorização mesmo para o consumo da caça que embora tenha sido obtida pelo esforço humano, seria na verdade permitida, se não ofertada, pelos entes espirituais.
A relação de dependência do ser humano com o ecossistema é clara, assim como a de parentesco e de submissão. As entidades elementais da natureza estão presentes em toda a parte, conferindo a onisciência do espírito divino. Embora haja a tendência da predominância de um presença mística feminina, a "mãe-terra", o elemento masculino também é notável a partir do momento que os seres humanos passam a compreender o papel do macho na reprodução. Ocorre então a presença de dois elementos divinos básicos, o Feminino e Masculino universal.
É um domínio de pensamento transcendente, mais compatível com a subjetividade e a síntese, não sendo então casual que este seja o tipo religioso onde as mulheres mais tenham influência. A presença de sacerdotisas, bruxas e feiticeiras é em muitos casos, muito mais significativa que a de seus equivalentes masculinos.
Todas essas religiões são ágrafas, sem escrita, com exceção é claro dos NeoPanteísmos contemporâneos. Portanto são as mais envoltas em obscuridade e mistérios, não tendo deixado nenhum registro além da tradição oral e de vestígios arqueológicos.
POLITEÍSMO
Com o tempo e o desenvolvimento as necessidades humanas passam a se tornar mais complexas. A sobrevivência assume contornos mais específicos, o crescimento populacional hipertrofiado graças a tecnologia que garante maior sucesso na preservação da prole e da longevidade, gera um série de atividades competitivas e estruturalistas nas sociedades, que se tornam cada vez mais estratificadas.
Nesse meio tempo a influência racional em franca ascensão tenta decifrar as transcendentes essências espirituais da natureza. Surge então o POLITEÍSMO, onde os elementos divinos são então personificados com qualidades cada vez mais humanas. O que era antes apenas a Água, um ser de essência espiritual metafísica e sagrada, agora passa a ser representada por uma entidade antropomórfica ou zoomórfica relacionada a água.
No princípio as características dessas divindades não são muito afetadas, mas com o tempo, a imaginação humana ou a tentativa de se adequar as religiões às estruturas sociais, elas ficam cada vez mais parecidas com os seres humanos comuns, surgindo então entre os deuses relacionamentos similares aos humanos inclusive com conflitos, ciúmes, traições, romances e etc. E cada vez mais os deuses perdem características transcendentes até que a "degeneração" chegue a ponto destes se relacionarem sexualmente com seres humanos, o que significa a perda da natureza metafísica, da característica invisível, ou mais, de haver relações físicas e pessoais de violência entre humanos e divindades, sem qualquer caráter transcendente.
Em muitos casos é difícil distinguir com clareza se determinadas religiões são Pan ou Politeístas. Mesmo no estágio Panteísta por vezes pode-se identificar com muita evidência algumas personificações das entidades divinas, mas algumas características como as citadas no parágrafo anterior são exclusivas do politeísmo. É possível que os elementos que contribuam ou realizem essa transição sejam o Animismo, Fetichismo e Totemismo.
Ocorre também uma relativa equivalência entre deidades femininas e masculinas, embora as masculinas mostrem sinais de predominância a medida que o sistema de crenças se torne mais mundano, características de uma fase mais racional e técnica onde muitas vezes a religião politeísta caminha junto com filosofias da natureza.
É sempre nesse estágio também que as sociedades desenvolvem escrita, ou pelo menos passa a utilizar símbolos abstratos e códigos visuais mais elaborados, no caso do politeísmo asiático, egípcio e europeu por exemplo, evoluiu para um sistema de escrita complexo.
Muitas destas religiões têm então, narrativas de seus mitos em forma escrita, mas tais não possuem o valor e a significância de uma Revelação propriamente dita.
Num estágio final tende a ocorrer o fenômeno da Monolatria, onde a adoração se concentra numa única divindade, o que pode ser o ponto de partida para o Monoteísmo.

MONOTEÍSMO
Chega um momento onde o Politeísmo está tão confuso, que parece forçar o "inconsciente coletivo", ou a "intuição global" a buscar uma nova forma de crença. Alguém precisa pôr ordem na casa, surge então um poderoso Deus que acaba com a confusão e se proclama como o Único soberano. Acabam-se as adorações isoladas e hierarquiza-se rigidamente as deidades, de modo a se submeter toda a autoridade do universo a um ente máximo.

O MONOTEÍSMO não é a crença em uma única divindade, mas sim a soberania absoluta de uma. A própria teologia judáico-cristã-islâmica adota hierarquias angélicas que são inclusive encarregadas de reger elementos específicos da natureza.
Um elemento que caracteriza mais claramente o MONOTEÍSMO mais específico, Zoroastrista, Judáico, Cristão, Islâmico e Sikh, é antes de tudo a ausência ou escassez de representações icônicas do Deus supremo, e sua desatribuição parcial de qualidades humanas, nem sempre bem sucedida. Já as entidades secundárias são comumente retratadas artisticamente.

A própria mitologia grega através da Monolatria, já estaria a dar sinais de se dirigir a um monoteísmo similar ao que chegou a religião Hindu, ou a egípcia com a instituição do deus único Akhenaton, embora ainda impregnadas fortemente de Politeísmo a até de reminiscências Panteístas no caso do Bhramanismo. Zeus assomava-se cada vez mais como o regente absoluto do universo. Entretanto um certo obstáculo teológico impedia que tal mitologia atingisse um estágio sequer semi-Monoteísta. Zeus é filho de Chronos, neto de Urano, essa descendência evidencia sua natureza subordinada ao tempo, ele não é eterno ou sequer o princípio em si próprio, que é uma característica obrigatória de um Deus Uno e absoluto como Bhraman ou Jeová.
Um fator complicador é que todas essas religiões apesar de seu princípio Uno, são também Dualistas, pois contrapõem um deus do Bem contra um do Mal. Entretanto não se presta "Sob Hipótese Alguma!", qualquer culto ao deus maligno, como ocorre nas Politeístas. Saber se o deus maligno está ou não sujeito afinal ao deus supremo é uma discussão que vem rendendo há mais de 3.000 anos.

Diferente do estado Panteísta original não ocorre harmonia entre os opostos, e um deles passa a ser privilegiado em detrimento do outro. Sendo assim onde antes ocorria a divinização dos aspectos Masculinos e Femininos do Universo, e a sacralidade da união, aqui ocorre a associação de um com o maligno, fatalmente do elemento Feminino uma vez que todas as religiões monoteístas surgiram na fase patriarcal da humanidade.
O Bhramanismo sendo o mais antigo, ainda conserva qualidades tais como veneração a manifestações femininas da divindade, não condena a relação sexual e ainda detém a crença reencarnacionista que é uma quase constante no Panteísmo. Do Politeísmo guarda toda um miríade de deuses personificados, com estórias bastante humanas que envolvem conflitos e paixões. Mas a subordinação a um Uno supremo, no caso representado pela trindade Bhrama-Vinshu-Shiva, é clara. O panteão anterior Hindu foi completamente absorvido pelo monoteísmo Bhraman, e conservou até mesmo a deusa Aditi, que outrora fora a divindade suprema.
Já os monoteísmos posteriores, mais afastados do fenômeno panteísta, entram em choque mais evidente com o Politeísmo que geralmente está em estado caótico. Ocorre um abafamento da religião anterior pela nova e seu caráter patriarcal e associado a violência, especialmente a partir do Judaísmo, se impõe de forma opressiva. As divindades femininas são erradicadas ou demonizadas, sendo então obrigatoriamente associadas ao elemento maligno do universo. Esse fenômeno acompanha a queda da condição social feminina na sociedade.
Embora as teologias monoteístas, especialmente na atualidade, se esforcem para afirmar o contrário, o deus único Hebreu, Cristão e Islâmico, basicamente o mesmo, assim como o do anterior Zoroastrismo e posterior Sikhismo, são nitidamente masculinos, aparentemente renegando o aspecto feminino divino do universo, mas na verdade o absorvendo, uma vez que ao contrário de deuses "supremos" Politeístas como Zeus, Osíris e Odin, eles são carregados de atribuições de amor e compaixão, embora ainda conservem sua Ira divina e seus atributos violentos, o que resulta em entidades complexas, que possuem aspectos paternos e maternos simultâneamente.
Tal como a própria emocionalidade, esse é o período mais contraditório da evolução do pensamento Teológico. Apesar de estar sob o domínio de uma característica de predominância subjetiva, é o momento onde as sociedades se mostraram paradoxalmente mais androcráticas. Os elementos femininos são absorvidos pelo Deus Único dando a ele o poder de atrair e seduzir as massas pela sua bondade, mostrando sua face benevolente, mas por outro lado a espada da masculinidade está sempre pronta a desferir o golpe fatal em quem se opuser a sua soberania.
Tal união, confere aos deuses monoteístas um poder supremo inigualável, e tal contradição, tal desarmonia intrínseca, resultou não por acaso no período religiosamente mais violento da história. As religiões monoteístas, especialmente o trio Judaísmo-Cristianismo-Islamismo, são as mais intolerantes e sanguinárias da história.

ATEÍSMO
As religiões aqui caracterizadas como Ateístas negam simplesmente a existência de um Ser Supremo central, que tudo tenha criado e a tudo controle, e talvez seja nesse grupo que se sinta mais radicalmente a ruptura entre Ocidente e Oriente, mas basicamente o Ateísmo religioso tende a funcionar da seguinte forma.
Se o Monoteísmo tenta acabar com o "pandemonium" Politeísta e estabelecer uma nova ordem por algum tempo, acaba por também se mundanizar. As autoridades religiosas interferindo fortemente na política e na estruturação social, enfraquecem como símbolos transcendentes. A inflexibilidade fundamentalista do sistema se revela injustificável ante a problemática social e as conquistas e descobertas filosóficas e científicas e num dado momento o sentimento de descrença é tal que deixa-se de acreditar num deus. Surge o

ATEÍSMO.
Esse é o ponto crucial, a razão pela qual de fato não acredito que existam Ateus no sentido mais profundo do termo, no máximo "agnósticos".
Geralmente o ateu não é aquele que desacredita do "invisível", de qualquer forma de Téos, mas sim o que descrê dos deuses personificados e corrompidos. Afinal até o mais materialista e cético dos cientistas trabalha com forças invisíveis! Fenômenos da natureza ainda inexplicáveis.
Gravitação Universal, Lei de Entropia, Mecânica Quântica e etc. não podem ser vistas! Apenas seus efeitos. Tal como sempre se alegou com relação aos deuses.

No que se refere a uma visão do Princípio, não creio fazer diferença acreditar que um corpo é atraído para o centro da Terra por uma força invisível da natureza ou pela vontade de um deus também invisível. Há apenas uma maior compreensão racional do fenômeno, com maiores resultado práticos, mas de um modo ou de outro, a explicação possui um certo caráter de fé, tão racionalmente satisfatório para o cientista quanto para o religioso, capaz de explicar com clareza o funcionamento do mundo e mesmo quando isso não ocorre, admiti-se como mistérios divinos, ou causas científicas ainda desconhecidas.

No caso do Oriente, o Ateísmo religioso surge principalmente na Índia, sob a forma do Budismo e do Jainísmo, e na China, sob o Taoísmo e o Confucionismo. Todas essas religiões possuem textos base com certo grau de respeitabilidade mística ou filosófica, mas o grau de liberdade com que se pode reinterpretar ou mesmo discordar destes textos é incomparável em relação aos livros sagrados Monoteístas.

E nesse nível que muitas posturas passam a ser desconsideradas como religiões, sendo tidas em geral como filosofias. No Ocidente, tal movimento ocorreu também na Grécia Antiga, através de Filósofos da Natureza que estabeleciam como princípio primário universal alguma "substância" completamente impessoal. Mais especificamente, Aristóteles colocava o MOTOR IMÓVEL como o princípio primário, e PLOTINO, estabelecia o UNO. Porém essa breve ascensão do Ateísmo filosófico e científico ocidental foi logo minada pelo sucesso do Monoteísmo cristão.

O Ateísmo no Ocidente só surgiu novamente após a renascença, no Iluminismo, onde outras formas filosóficas se desenvolveram, mas a mistura destas com os Neo Panteísmos e o avanço científico em geral resulta num quadro difícil de se diferenciar.
Mas o ponto mais complexo na verdade, e que Ateísmo e Panteísmo se confundem.
Religiões ATEÍSTAS e NEO-PANTEÍSTAS

As religiões Ateístas não crêem numa entidade suprema central, mas pregam a interdependência harmônica do Universo, da mesma forma que o Panteísmo.
Pregam a harmonia dos opostos como Yin e Yang, da mesma forma que a harmonia entre a Deusa e o Deus no Panteísmo, e constantemente adotam um posição de neutralidade em relação aos eventos.

Provavelmente não por acaso TAOÍSMO e BUDISMO são as mais avançadas das grandes religiões num sentido metafísico, racional e mesmo científico. São imunes a contestação racional pois seus conceitos trabalham num plano mais abstrato mas ao mesmo tempo capaz de explicar a realidade, e fartos de paradoxos escapistas, sendo extremamente mais flexíveis que as religiões monoteístas por exemplo. Não há casos significativos de atrocidades cometidas em nome destas religiões em larga escala como as monoteístas ou nas politeístas monolátricas.

Porém, barreiras intransponíveis impedem que essas religiões sejam nesse esquema de divisão, classificadas como Panteístas. TAOÍSMO e CONFUCIONISMO que são chinesas equanto o BUDISMO e o JAINISMO Indianos, são religiões letradas. Possuem seus escritos fundamentais como os Sutras Budistas, o Tao Te-King Taoísta e os Anacletos Confucianos e os textos dos Tirthankaras Jainistas. Todas possuem seus mentores, Buda, Lao-Tsé, Confúcio e Mahavira. E todas são muito desenvolvidas filosoficamente, por vezes sendo consideradas não religiões, mas filosofia. Todas essas características inexistem no Panteísmo primitivo.
Portanto isso me leva a classificá-las como RELIGIÕES ATEÍSTAS, por declararem a inexistência de um Ser Supremo. Pelo contrário, o TAO ou o NIRVANA, o centro de todo o Universo segundo o Taoísmo e Confucionismo, e o Budismo, são uma espécie de Vazio, um Não-Ser.

Já o Neo-Panteísmo possui sim seus textos. É o caso do Espiritismo Kardecista, do Bahaísmo, do Racionalismo Cristão e etc. Embora muitos insistam em negar-se como Panteístas se inclinando para o Monoteísmo, porém uma série de fatores a distanciam muito deste grupo. Tais como:
A ênfase atenuada dada ao livro base da doutrina, que embora seja uma revelação, não tem o mesmo peso dogmático e em geral se apresenta de forma predominantemente racional. A postura passiva e não proselitista, e muito menos violenta, do Monoteísmo tradicional. A caraterização de seu fundador que mesmo sendo dotado de dons supra-naturais, não reivindica deificação e nem mesmo reverência especial. E o mais importante, diferenciando-as principalmente do Monoteísmo "Ocidental", o tratamento totalmente diferenciado dado a questão da existência do "Mal". Esses são alguns exemplos que tendem a afastar essas novas religiões, que prefiro agrupar na categoria Neo-Panteísmo, do grupo das Monoteístas.
PANTEÍSMO
=>
Deus é Tudo
POLITEÍSMO
=>
Deus é Plural
MONOTEÍSMO
=>
Deus é Um
ATEÍSMO
=>
Deus é Nada

Evidentemente, afirmar que DEUS é TUDO é muito similar a afirmar que é NADA. O ZERO é tão imensurável e incalculável quanto o INFINITO. Eles não podem ser medidos ou divididos, assim como não se divide por eles.

Vale lembrar que não se pode também rotular tal ou qual religião como meramente Pan, Poli ou Monoteísta. Muitas passaram pelas várias fases nem sempre de maneira perceptível e consensual. O próprio Budismo tem várias escolas bastante diferentes entre si, e mesmo o Cristianismo tem suas variantes com direito a reencarnação e sexo tântrico, e cujas atribuições de Deus o afastam das características monoteístas. Mas o processo macro, inconsciente, me parece ser esse! O de fases "psicohistóricas" que vão na forma:

?-PANTEÍSMO-POLITEÍSMO-MONOTEÍSMO-ATEÍSMO-?PANTEÍSMO
Outro ponto importante é que jamais uma dessas formas religiosas deixou de existir totalmente, principalmente na atualidade onde a intolerância religiosa não é mais "tolerada" na maior parte do mundo. Esses tipos de religiões se misturam e se confundem, o que explica porque qualquer tentativa de se classificar as religiões é tão complexa.

Até mesmo essa divisão esquemática apresenta problemas, como a notável diferença entre o Monoteísmo "Ocidental", Judaísmo-Cristianismo-Islamismo, fortemente interligadas, o Monoteísmo Oriental, Hindu, Bhramanismo e Sikhismo, e o sempre complexo Zoroastrismo, de características fortemente Maniqueistas, o que viria por vezes a suscintar a questão de se o Maniqueísmo, que tem forte influência sobre o Gnosticismo e o Catolicismo, poderia ser considerado Monoteísta.

8/22/2007

Poema 20

Poema 20
(Pablo Neruda - do livro Vinte poemas de amor e uma canção desesperada)

Posso escrever os versos mais tristes esta noite
Escrever por exemplo:
A noite está fria e tiritam, azuis, os astros à distância
Gira o vento da noite pelo céu e canta
Posso escrever os versos mais tristes esta noite
Eu a quiz e por vezes ela também me quiz
Em noites como esta, apertei-a em meus braços
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito
Ela me quiz e as vezes eu também a queria
Como não ter amado seus grandes olhos fixos ?
Posso escrever os versos mais lindos esta noite
Pensar que não a tenho
Sentir que já a perdi
Ouvir a noite imensa mais profunda sem ela
E cai o verso na alma como orvalho no trigo
Que importa se não pode o meu amor guardá-la ?
A noite está estrelada e ela não está comigo
Isso é tudo
A distância alguém canta. A distância
Minha alma se exaspera por havê-la perdido
Para tê-la mais perto meu olhar a procura
Meu coração procura-a, ela não está comigo
A mesma noite faz brancas as mesmas árvores
Já não somos os mesmos que antes havíamos sido
Já não a quero, é certo
Porém quanto a queria !
A minha voz no vento ia tocar-lhe o ouvido
De outro. será de outro
Como antes de meus beijos
Sua voz, seu corpo claro, seus olhos infinitos
Já não a quero, é certo,
Porém talvez a queira
Ah ! é tão curto o amor, tão demorado o olvido
Porque em noites como esta
Eu a apertei em meus braços,
Minha alma se exaspera por havê-la perdido
Mesmo que seja a última esta dor que me causa
E estes versos os últimos que eu lhe tenha escrito.




BEIJO A TODOS
IVONE

8/19/2007

O que dizem as paredes Das escolas

Especialistas dizem "não" às decorações das paredes com imagens estereotipadas, defendendo que elas reflitam o que acontecem com OS alunos naquele ambiente

Ao invés de um modelo único perpetuado nas paredes, o impacto DA produção infantil sempre é diverso e instigante
Imagens: Reprodução
Ao dar uma volta em qualquer bairro de uma cidade brasileira é quase impossível não se deparar com muros cobertos de pinturas que retratam guloseimas coloridas, Minnies, Mickeys, dálmatas, ursos, patos, pássaros pintados de maneiras estereotipadas, com cores chamativas, anunciando que naquele imóvel funciona uma escola de Educação Infantil. Muitos adultos que atuam nesse nível de ensino acreditam que as crianças pequenas vão se sentir atraídas por essas imagens. Consideram também que seus pais ficarão satisfeitos com o indício, transmitido pelos desenhos, de que a escola tem uma proposta direcionada aos pequenos. O que se esconde por detrás dessas escolhas e desses muros?

A escritora Fanny Abramovich, no livro Quem Educa Quem?, dedica um capítulo especial ao visual das escolas, onde entrevista Madalena Freire e o artista plástico Valdir Sarubbi. Para OS três, o jeito como são decoradas as escolas revela muito sobre as concepções das pessoas envolvidas: “Entrando em salas de aula de escolinhas e escolonas, em geral, toma-se o maior susto. Uma olhada e já se percebe qual é a proposta DA escola, como a professora encaminha o processo educacional, quais OS valores em jogo...”. Isso acontece porque a estruturação do espaço, a forma como OS materiais estão organizados, sua qualidade e adequação constituem elementos essenciais de um projeto educativo.


Um espaço para a criança



Madalena Freire, no livro acima citado, diz : “Se o espaço é fechado (referindo-se ao fato de que as paredes estão decoradas por adultos), faz com que você perca a sua identidade (o que acontece até com adultos). As escolas que estão lá com o Mickey, a Mônica, estão refletindo que estão mortas, que a sua ação é a de um cemitério...”, acrescenta.

Sobre salas decoradas com esse tipo de personagem, o artista plástico e educador Valdir Sarubbi é mais enfático e declara a Fanny:“... O problema deste tipo de desenho é que é estereotipado, enjoado, batido... É sempre o mesmo traço, sem movimento algum, mesmo no cinema parece que OS personagens não se mexem. É um traço duro, consumidor, sem novidade alguma... É como se fosse uma garrafa de Coca-Cola, sempre igualzinha, que não vai mudar nunca! E o pior é continuar impingindo isso para a criança, que não nutre nenhuma afetividade especial pelo Pato Donald, que preferiria um desenho que tivesse a ver com ela... É exatamente como se faz com a música de rádio, obrigando ao consumismo, ao condicionamento, por insistência, para fabricar um ídolo e não para suscitar prazer ou chegar ao ouvinte pelo nível afetivo...”

A crítica às paredes povoadas pelo mundo Disney é reforçada pela decoradora Vera Fraga Leslie. Formada em Comunicação Social e pós-graduada em História das Mentalidades, ela é autora de Lugar-Comum, “Auto-Ajuda” de Decoração e Estilo. No texto leve e bem-humorado, Vera instiga o pensamento crítico, afirma que nos quartos infantis impera a “disneylização” DA infância e sugere: “Deixe as fadas e OS super-heróis na televisão, for a do quarto.” Isso também vale para as instituições. Em entrevista à Revista Avisa lá, ela diz que “isso leva a um comportamento massificado, e é esteticamente feio. A possibilidade de uma criança estabelecer relações entre o que pensa e as imagens que vê FICA comprometida”.

Há imagens, assim como textos, canções e muitas outras manifestações culturais, que pela qualidade estética possibilitam às pessoas estabelecer múltiplas e diferentes relações; outras, ao contrário, limitam e fecham. Por esse motivo, a Educação precisa examinar com atenção a qualidade dos produtos culturais que oferece cotidianamente para as crianças.


Gosto se discute


Mas, afinal, isso não é apenas uma questão de gosto? E não está estabelecido que gosto não se discute? Vera diz o contrário: “Cada um tem seu conceito de beleza e almeja o belo, mas gosto se discute, sim, assim como cada um aprende a formar um arquivo de imagens e um repertório crítico”. Ela lembra que as imagens e OS objetos falam, e é daí que vêm sua magia e perigo.

Quando temos nas paredes apenas um único modelo perpetuado em um desenho sem qualidade, FICA difícil para a criança iniciar seu processo de “alfabetização visual”, no qual teria que incorporar a possibilidade de crítica ao objeto: “Na falta de uma gramática e de uma sintaxe das imagens que nos dêem a segurança para interpretar e criar, temos que desenvolver a percepção em vez de aceitar, passivamente, a invasão e a saturação de nossas retinas. Ter consciência de que nenhuma imagem é inocente e natural é a primeira etapa para se manter o olho vivo e lidar com as implicações e limitações de ordem cultural, política e social que se escondem em qualquer estética visual”.


Decoração das paredes


Se não vamos decorar de antemão todas as paredes da escola de Educação Infantil, quais seriam as alternativas?




Segundo Vera, o importante é permitir um movimento vivo e construído pelas próprias crianças, em vez de fixar determinados personagens ou imagens nas paredes. A instituição pode se transformar num espaço lúdico, onde todas as condições de segurança estão presentes, mas existe a liberdade para o jeito especial das crianças criarem. Portanto, quanto mais claras, limpas e luminosas forem as paredes, melhor. O colorido virá aos poucos, num movimento permanente, que mostra a alma da instituição e do trabalho desenvolvido por seus educadores, por meio da produção das crianças. É preciso abrir, literalmente e metaforicamente, as janelas para expandir os horizontes do pensamento.

Ainda é Madalena Freire, na entrevista à Fanny, que sugere um caminho parecido: “Quando as crianças, no início do ano, entram na sua sala de aula, as paredes estão totalmente brancas... não há nada dependurado nelas, não existe nenhum material exposto, apenas o essencial para uma organização mínima: bancos e coisas assim... Então, começamos a habitar esse espaço, sentir o corpo atuando nele..”. Após as atividades desenvolvidas pelas crianças em função dos projetos didáticos, Madalena conclui: “E aí, no final do ano, há um céu no teto, todo pintado ou cheio de recortes, mil coisas... Um vão minúsculo, na parede, foi descoberto, e está lá demonstrado, apontado... A sala tem e reflete tudo o que aconteceu durante o ano, nas aulas de matemática, de alfabetização, de informação sobre planetas etc... Estão lá, em destaque, o quadro das descobertas feitas e o quadro das dúvidas levantadas, porque conhecer não é só saber... É duvidar! Desta relação, que é de vida, é que vai se criando e se habitando esse espaço!”

Valdir Sarubbi reforça: “Importante, e muito, é que a sala de aula esteja nua...Se possível, a parede só caiada... Então, quando se transa um trabalho que foi importante para o grupo, se dependura e ele aparece de modo muito mais nítido... Não importa se for um trabalho de desenho ou uma construção no espaço. Fundamental é que ele se coloca por inteiro, sem nenhuma interferência de outros elementos de fora, que atrapalham a própria visão do que foi feito, conseguido...”

A proposta desses educadores é que o projeto arquitetônico, os móveis, as paredes devam se constituir no melhor suporte possível para fazer emergir a expressão das crianças que ocupam o espaço. Jamais um efeito decorativo onde o visual sobrepuja a ação das crianças.


Bibliografia:


– Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, Volume1. Secretaria de Educação Fundamental – Brasília MEC / SEF, 1998.

– Quem educa quem? Fanny Abramovich. Summus.
Site www.gruposummus.com.br.

– As cem linguagens da criança.
Carolyn Edwards, Lella Gandini e George Forman. Edição Artmed.
Site www.artmed.com.br.