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9/03/2007

SE EU FOR, QUANDO EU FOR .........



Se eu for impaciente e começar a dizer o que não devo, põe de leve os teus dedos sobre a minha boca e lembre-me que há momentos em que é melhor calar. Se eu for igual a um surdo e teimar em não querer escutar, fale mais baixinho, fale quase num sussurro;


Fale com o teu interior, quase em silêncio, aí eu terei de esforçar-me para ouvir-te e então que poderei escutar-te melhor.
Quando eu for um sorriso, abre teu coração para guardar o momento em que sorri porque, quando eu estiver triste, ligarei tuas lembranças e ouvirei de novo aquele instante em que fui tão feliz que até me dei ao luxo de sorrir.Quando eu for desespero e desencontro, que sejas tu a dizer-me que nem tudo está perdido;


eu entenderei que desejas animar-me e devolver a minha confiança perdida, assim pelo menos poderei tentar de novo. Se eu partir, se eu for embora, que tenhas a coragem de buscar-me ou a paciência de esperar pelo meu retorno ....Se me buscares, eu diminuirei meus passos para que me alcances e se eu souber que me esperas, voltarei e, de um modo ou de outro, ficaremos juntos outra vez.


Quando eu for erro, ensina-me o certo, e quando errar de novo perdoa-me, porque no primeiro caso, eu aprenderei;


No segundo caso, eu chegarei a ter vergonha de haver errado.
Quando eu for pergunta é preciso que sejas tu a resposta porque, se não o fores, a esfinge continuará indecifrada e ficará nas areias do deserto sem solução.


Quando eu for inteira tristeza, guarda minha mágoa contigo, assim ninguém mais se contaminará com o que sofro e tu me ajudará a carregar o mar imenso de minhas lágrimas.Quando eu for tempestade que sejas tu a bonança e o tranqüilo porto onde deverá chegar meu barco desarvorado e sem rumo... Enfim, quando eu for saudade, que eu seja realmente saudade:
Se no purgatório estiver, a saudade será refrigério que me aliviará, o consolo que me confortará;
Se eu estiver onde dizem que não há dor, em que o sofrimento não chega, a saudade de ti será então a dor única que ali terá chegado, a lembrar-me de que, sem ti, eu não cheguei de todo e a felicidade ainda não a conquistei,
nem chegando à bem-aventurança, já que a saudade me dirá serena que a felicidade ficou onde estás, que a minha ventura permaneceu contigo.

(Do livro: Por encanto, só por enquanto - de José Wanderley Dias)

Obs: José Wanderley Dias, faleceu em um acidente junto com a esposa Dnª Neusa.
Dias antes de morrer, escreveu uma crônica com a poesia acima.

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